O ritmo musical RAP como mecanismo de protesto no ensino guineense e brasileiro

The musical rhythm RAP as a protest mechanism in Guinean and Brazilian education

Autores

  • Paloma Virgens Santiago Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano - Brasil
  • Alexandre António Timbane Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - Brasil

Palavras-chave:

Rap, Letramento, Reexistência, Ensino-Aprendizado

Resumo

O ritmo musical rap sempre foi um ritmo marginalizado por narrar, através de suas letras, as opressões vividas pelos sujeitos que se encontram à margem da sociedade. Este ritmo esteve presente entre jovens, tanto no Brasil quanto na Guiné-Bissau, representando os movimentos de resistência e o protagonismo civil. Desde Bissau, os meios de comunicação têm sido imprescindíveis e eficazes no sentido de propagar as mensagens apresentadas nas canções. De acordo com Barros (2012), os movimentos de libertação que ocorreram no Continente africano foram muito importantes para o surgimento de novas frentes de resistência e o rap aparece então como instrumento responsável por ampliar as possibilidades de liberdade de expressão. Observando a necessidade de compreensão e exercício da Lei nº 10.639/03, fez-se necessário delinear um plano de ação cujo o ensino de diferentes movimentos literários, fenômenos políticos e sociais fosse pautado em literaturas marginais, ou letramento de reexistência a fim de propiciar um ensino-aprendizado mais efetivo e preocupado com a realidade dos estudantes. Serão analisadas de forma comparativa uma canção do rap brasileiro e uma canção Bissau-guineense, e trechos das canções serão dispostos a fim de que os pontos supracitados possam ser identificados. Sendo assim, este trabalho busca analisar de forma comparativa como as canções de rap eram utilizadas em Guiné-Bissau e como são utilizadas no Brasil como mecanismo de ensino e protesto, evidenciando quais os discursos nelas propagados, bem como os aspectos políticos e sociais presentes nas canções selecionadas.

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The musical style rap always was a marginalized style because narrates, through its lyrics, the oppressions lived by people that are part of a depleted society. This musical style always was present between young people both in Brazil and in Guinea-Bissau, representing the resistance movements and civil protagonism. From Bissau, the means of communication have been essential and effective in spreading the messages presented in the songs. According to Barros (2012), the liberation movements that took place on the African continent were very important for the emergence of new resistance fronts and rap appears then as an instrument responsible for expanding the possibilities of freedom of expression. Observing the need to understand and the rule of  Law 10.639/03, it was necessary to outline an action plan where the teaching of different literary movements, political and social phenomena was based on marginal literature, or re-existence literacy in order to provide a teaching more effective learning and concerned with the students' reality. Thus, this work sought to comparatively analyze how rap songs were used in Guinea-Bissau and how they were used in Brazil as a teaching and protest mechanism, showing which were the discourses propagated in them, as well as the political and social aspects present on the selected songs.

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Ritimu musikal rap i ta kondenadu pabia i ta konta, atrabés di si letras, sufrimentus ku djintis mas koitadi ta vivi na Sosiedadi. E ritimu ta odjadu na metade di jovens, na Brasil, suma tambi Guiné-Bissau, i ta simboliza djuntamentus di resistência i distaki civil. Desdi Bissau, meios di kumunikason mostra se balur na spalha informasons a partir di musikas. Sugundu Barros (2012), muvimentus di libertason ku akontisi na kontinenti afrikanu e sedu importante pa kumsada di nobu avansu di resistência, i rap bin suma instrumento pa iabri oportunidade di liberdadi di papia. Pa necessidade di ntindi i kumpri Lei nº10.639/03, i pirsis marka un planu di ason, ku nsinu di diferentis tempos literários, ku visons politikus i sociais ku dibidi foka na literaturas ku ka valorizadu, ou letramento di reexistência pa pudi da u nsinu i aprendizadu mas ativu i ku ta prekupa ku realidade di estudantes. Na es tarbadju, i fasidu un analizi komparativu di un musika rap brasileiro, i un musika Bissau-guineense, partis di musikas na rumadu, pa dipus es pontus distakadus pa e sedu identifikadu. Pa es manera, es tarbadju buska analisa di manera komparativu kuma ku musikas rap sedu ba utilizadu na Guiné-Bissau i kuma ki ta uzadu na Brasil, suma manera di nsinu i protesto, pa mostra na es musikas kal tipu di di disursus ke ta apresenta, asin suma aspektus politikus i sociais ku e musikas  selesionadu mostra.

Biografia do Autor

Paloma Virgens Santiago, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano - Brasil

Professora Substituta Português/ Inglês no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano (IF BAIANO Campus Santa Inês). Professora de Língua Inglesa na Rede Particular de Ensino. Graduada em Letras com Língua Inglesa na Universidade Estadual de Feira de Santana. Especialista em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e integra o Grupo de Pesquisa Corpo - Território - Decolonial (UEFS - CNPQ) na Universidade Estadual de Feira de Santana. Desenvolve pesquisas sobre Canções de Rap e a efetividade do ensino da Cultura Afro- Brasileira nas escolas através desse ritmo musical. 

Alexandre António Timbane, Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - Brasil

Doutor em Linguística e Língua Portuguesa (2013) pela UNESP-Brasil, Mestre em Linguística e Literatura moçambicana (2009) pela Universidade Eduardo Mondlane-Moçambique. É professor Permanente da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Instituto de Humanidades e Letras, Campus dos Malês, Bahia. Tem experiência no ensino e na pesquisa na área de Sociolinguística e Dialetologia com enfoque na variação e mudança lexical do Português (Estudos do Léxico), Contato linguístico e Línguas Bantu. Membro do Grupo de Pesquisa África-Brasil: produção de conhecimento, sociedade civil, desenvolvimento e Cidadania Global.

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Publicado

10-06-2022

Como Citar

Santiago, P. V. ., & Timbane, A. A. . (2022). O ritmo musical RAP como mecanismo de protesto no ensino guineense e brasileiro: The musical rhythm RAP as a protest mechanism in Guinean and Brazilian education. NJINGA E SEPÉ: Revista Internacional De Culturas, Línguas Africanas E Brasileiras, 2(1), 225–246. Recuperado de https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/article/view/926

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