Tradução de um artigo da Constituição Federal para a língua Maxakali: limitações e desafios do processo de tradução para uma língua indígena

Autores/as

  • Carlo Sandro de Oliveira Campos Universidade Federal de Minas Gerais
  • Pedro Rocha de Almeida e Castro Universidade Federal de Minas Gerais

Palabras clave:

Artigo 231, Constituição Federal, Língua Maxakali, Tradução, Revitalização Linguística

Resumen

Este texto tem o objetivo de descrever uma experiência vivenciada pelos autores de traduzir o artigo 231 da Constituição Federal para a língua Maxakali, língua indígena brasileira falada no nordeste de Minas Gerais. A tradução foi realizada no âmbito do Curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas da Faculdade de Educação da UFMG durante um dos módulos na aldeia Pradinho em 2019. A intenção de realizar essa tradução partiu do interesse dos alunos de entender a função desse artigo durante um dos encontros do curso. Os objetivos da tradução portanto foram fazer os Maxakali conhecerem o artigo 231 aos Maxakali e viabilizar a sua leitura em língua Maxakali como parte do esforço maior de fortalecer a língua indígena em relação à língua majoritária por meio da oferta de textos de diferentes gêneros na língua. O texto jurídico e a realidade a que ele se refere é estranho e distante da realidade Maxakali e impõe à tradução desafios de ordem cultural e lexical. Tais limitações exigiram adaptação não literal do conteúdo do texto e exclusão de Parágrafos que complementam o artigo na versão original. Este artigo, portanto, descreve as dificuldades encontradas no processo de tradução e apresenta os desafios para uma futura tradução do mesmo artigo em língua Maxakali, que inclua os parágrafos omitidos do texto. Adicionalmente, as reflexões aqui apresentadas poderão ser úteis para atividades de tradução em geral de línguas majoritárias para línguas minoritárias e para a pesquisa relacionada ao fortalecimento de línguas minorizadas.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Carlo Sandro de Oliveira Campos, Universidade Federal de Minas Gerais

Professor adjunto do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Faculdade de Educação da UFMG. Tem graduação em Letras e mestrado e doutorado em Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tem experiência nas áreas de documentação e descrição linguística, com longa atuação junto ao povo Maxakali.  Desenvolve pesquisa relacionada a descrição do português e de línguas indígenas, linguística teórica em estudos de gramática e léxico e revitalização linguística de línguas minoritárias em interface com a educação com foco em leitura e escrita. 

Pedro Rocha de Almeida e Castro, Universidade Federal de Minas Gerais

Possui graduação em ciências sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2007) e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012). Realizou trabalho de campo entre os Kotiria (Wanano) do alto Uaupés (AM), que resultou em uma dissertação de mestrado, focada nos temas do parentesco e da onomástica, e em uma tese de doutorado, dedicada a explorar a conexão entre os processos de fabricação corporal e política (intra e interétnica). Atuou como antropólogo da Coordenação Geral de Identificação e Delimitação da Fundação Nacional do Índio, onde teve oportunidade de trabalhar com diversas etnias, dentre elas Apurinã, Munduruku, Yudjá (Juruna) e Mebengokre (Kayapó). Desde 2006 atua também como assessor da escola bilíngue e diferenciada Khumuno Wuu Kotiria, localizada na Terra Indígena Alto Rio Negro, na fronteira entre Brasil e Colômbia. No âmbito desta escola, tem se concentrado em estimular o debate sobre os processos de aprendizado e educação extra-classe, fomentando o desenvolvimento de projetos de valorização cultural e gestão ambiental e territorial. Atualmente é professor adjunto do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais.

Citas

BOMFIM, Anari Braz. Patxohã, ‘Língua de Guerreiro’: um estudo sobre o processo de retomada da língua Pataxó. 2012, 127 p. (Dissertação de Mestrado). Salvador: Universidade Federal da Bahia (UFBA), 2012.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasília: Senado Federal, Artigo 231. Disponível em<http://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_26.08.2020/art_231_asp#:~:text=S%C3%A3o%20reconhecidos%20aos%20%C3%ADndios%20sua.respeitar%20todos%20os%20seus%20bens>. Acesso em 28.dez.2020.

CAMPOS, Carlo S. Práticas de letramento em português e em Maxakali em um curso de formação de educadores indígenas. In: SANTOS, Alana Driziê Gonzatti dos et al. (Org.). Anais Eletrônicos do V Seminário de Pesquisas em Letramento. Natal: UFRN, 2020, p.36-47.

CRYSTAL, David. Pequeno tratado da linguagem humana. Tradução de Gabriel Perissé. São Paulo: Saraiva, 2012.

D’ANGELIS, Wilmar R. Educação escolar e ameaças à sobrevivência das línguas indígenas no Brasil Meridional. In: D'ANGELIS, Wilmar R. (Org.). Aprisionando sonhos: a educação escolar indígena no Brasil. Campinas-SP: Curt Nimuendajú, 2012, p. 175-190.

_______. Línguas indígenas no Brasil: quantas eram, quantas são, quantas serão? In: D’ANGELIS, Wilmar R. (Org.). O que é revitalização de línguas indígenas: como fazemos. Campinas: Curt Nimuendajú, 2019, p. 13-28.

GUDSCHINSKY, Sara. C.; POPOVICH, Harold.; POPOVICH, Francis. Native reaction and phonetic similarity in Maxakali phonology. Language, 46 (1), 1970, p. 77-88.

IVO, Ivana Pereira. Revitalização de línguas indígenas: do que estamos falando? In: D’ANGELIS, Wilmar R. (Org.). O que é revitalização de línguas indígenas: como fazemos. Campinas-SP: Curt Nimuendajú, 2019, p.43-63.

KRAUSS, Michael. The world’s languages in crisis. Language, 68., 1992, p. 4-10.

LITTLE, P. E. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma antropologia da territorialidade. Anuário Antropológico, 28(1), 2018, p. 251-290. Disponível em < https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6871> Acesso em 25.dez.2020.

MONSERRAT, Ruth. Por que, afinal, parece tão fácil abandonar a própria língua? In: COSTA, Consuelo P. G. (Org.). Pensando as línguas indígenas na Bahia: C-Indy em Vitória da Conquista. Campinas, São Paulo: Ed. Curt Nimuendajú, 2011, p. 9-17.

MOORE, Denny. As línguas indígenas no Brasil hoje. In: MELLO, H.; ALTENHOFEN, C.; RASO, T. (Org.). Os contatos linguísticos no Brasil. 1ª Edição. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, p. 217-240.

NASCENTES, Antenor. O linguajar carioca. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953.

NELSON, Jessica Fae. Pataxó Hãhãhãe: Race, Indigeneity and Language Revitalization in the Brazilian Northeast. 2018, 309 p. (Tese de Doutorado). Universidade do Arizona, 2018.

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas. D.E.L.T.A. São Paulo, v. 9, N.1, 1993, p. 83-103.

SACK, Robert David. Human territoriality: its theory and history. Cambridge: Cambridge University Press, 1986.

SIASI/SESAI. Quadro geral dos povos. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Quadro_Geral_dos_Povos>. Acesso em 27.dez.2020, 2014.

STORTO, Luciana. Línguas indígenas: tradição, universais e diversidade. 1ª edição. Campinas: Mercado das Letras, 2019.

Publicado

02-01-2023

Cómo citar

Campos, C. S. de O., & Almeida e Castro, P. R. de . (2023). Tradução de um artigo da Constituição Federal para a língua Maxakali: limitações e desafios do processo de tradução para uma língua indígena. NJINGA&SEPÉ: evista nternacional e ulturas, Línguas fricanas rasileiras, 3(1), 543–556. ecuperado a partir de https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/article/view/1109

Número

Sección

Seção IV - Relatos de Experiências, Fotos, Receitas, Tradições e ritos