As percepções dos operadores jurídicos sobre o acesso aos tribunais por parte das mulheres rurais: caso de Malulo, Distrito de Sanga
Maonero e Vashandi veMutemo paKuwaniswa kuMatare neMadzimai ekumaruwa: Malulo case, Sanga District
Abstract
O acesso aos tribunais é um direito fundamental do cidadão constitucionalmente reconhecido no nosso ordenamento jurídico moçambicano. Este trabalho investigou as percepções dos operadores jurídicos (Juíza, Procurador e Defensores oficiosos), sobre o acesso aos tribunais por parte das mulheres rurais de Malulo, no Distrito de Sanga. Pretende possibilitar uma reflexão acerca do acesso das mulheres rurais que na sua maioria são poucas escolarizadas e informadas. A pesquisa caracterizou-se como qualitativa, exploratória e descritiva, uma vez que trata-se de uma pesquisa em andamento de Mestrado em Desenvolvimento Rural na Universidade Lúrio. A colecta de dados foi feita com base em quatro (4), entrevistas semi-estruturadas em profundidade. Análise dos resultados baseou-se nas técnicas de análise de conteúdos. As evidências observadas mostram que o acesso aos tribunais por parte das mulheres de Malulo no Distrito de Sanga é limitado devido ao: i) baixa escolarização; ii) falta de informação; iii) pobreza (falta de condições econômicas que possa pagar um defensor) e vi) factores culturais (masculinidade e ritos de iniciação) - Nessas comunidades as relações sociais de família são caracterizadas pela supremacia do homem sobre a mulher e encontramos nessas comunidades uma estrutura hierarquicamente organizada. No quadro da estrutura hierárquica primeiro se encontra o homem adulto, depois a mulher adulta. Este cenário de subalternidade retira todas as possibilidades da mulher de reclamar ou negociar os seus direitos com maior destaque para os direitos sexuais e reprodutivos. Os resultados mostraram a importância de emponderar as mulheres com informações para que possam reclamar e garantir os seus direitos.
Downloads
References
Abrahams, N. et al. (2014). Worlwide prevalence of non-partner sexual violence. The Lancet. Volume 383, Issue 9929, 10–16 May, pp.1648-1654.
Almeida, A. et al. (2006). Representações Sociais da Adolescência e Práticas Educativas dos Adultos. In: Almeida, A. M. O. et. al. (Org.) Violência, exclusão social e desenvolvimento humano: estudos em representações sociais. Brasília: Ed. UnB.
Andrade, M.A. (1998). A identidade como representação e a representação da identidade. In: Moreira, A.S.P. e Oliveira, D.C. (Org.). Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB Editora.
Araújo, S. (2008). Acesso à justiça e pluralismo jurídico em Moçambique. Resolução de litígios no bairro “Jorge Dimitrov”. VI Congresso Português de Sociologia. Universidade Nova de Lisboa. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 25 a 26 de Junho, pp.3-13.
Araújo, S & Lauris, É. (2015). Reforma Global da Justiça, Pluriversalismo e Legalidade Subalterna: Reflexões Teóricas e Empíricas a Partir de Uma Ecologia de Justiças no Brasil, em Moçambique e em Portugal. Cronos: R. Pós-Grad. Ci. Soc. UFRN, Natal, v. 16, n.2, jul./dez, p.88-113.
Chilundo, B. (2013). Violência do Género e Acesso à Justiça em Moçambique (Síntese a partir dos slides). Publicado em “Outras Vozes”, nº 41-42, Maio.
García-Moreno, C. (2015). Violencia contra la mujer: Género y equidade em la salud. OPS. Disponível em: http://www.catunescomujer.pdf. Acessado em 5 de Jan 2022.
Jodelet, D. (2008). Le mouvement de retour vers le sujet et l‟approche des représentations sociales. Connexions (Identité et subjectivité), Érés, n.º89, pp. 25-46.
Ministério da Administração Estatal (MAE) (2004). Perfil do Distrito de Sanga – Província de Niassa. Maputo: MAE.
Menete, F. (2016). Acesso à Justiça: Perspectiva Nacional e Internacional. Comemoração do 90-º Aniversário da Ordem dos Advogados Portugueses. Cascais, 30 de Junho.
Moscovici, S. (1996). A máquina de fazer deuses. Rio de Janeiro: Imago.
Osório, C. et al. (2000). A ilusão da Transparência na administração de justiça. Maputo: Women and Law in Southern Africa - Research Trust - Mozambique (WLSAMOZ).
Osório, C.; Temba, E. (2003). “A Justiça no Feminino”. In: Santos, B. S.; Trindade, J. C. (Org.). Conflito e Transformação Social: uma Paisagem das Justiças em Moçambique. Porto: Edições Afrontamento.
Osório, C. & Silva, T. C. (2009). Gênero e governação local: estudos de caso na província de Manica, distrito de Tambara e Machaz. Maputo: WLSA.
Osório, C. (2010). Gênero e democracia: as eleições de 2009 em Moçambique. Maputo: WNLSA.
Osório, C.; Macuacua, E. (2013). Os ritos de iniciação no contexto atual de ajustamento, ruptura e confrontos, construindo identidade de gênero. Maputo: WNLSA.
Osório, C. (2007). Algumas reflexões sobre o funcionamento dos Gabinetes de Atendimento da Mulher e da Criança, 2000-2003 (2ª parte). In: Arthur, M. J. (Org.) Memórias do Activismo pelos direitos humanos das mulheres: Recolha de Textos Publicados No Boletim Outras Vozes, 2002 – 2006. Maputo: WLSA Moçambique.
Osório, C. & Cols. (2008). A mulher e a Lei na África Austral: A ilusão da transparência na administração da justiça. Women and Law in Southern Africa - Research Trust - Mozambique (WLSAMOZ) Departamento de Estudos da Mulher e Género. 2ª ed. Moçambique.
Pedroso, J. (2011). Acesso ao Direito e à Justiça: um direito fundamental em (des)construção. O caso do acesso ao direito e à justiça da família e das crianças. 498f.2011. Tese de Doutoramento em Sociologia do Estado, do Direito e da Administração, apresentada à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
República de Moçambique. (2004). Constituição da República de Moçambique. Maputo: Imprensa Nacional.
Secretaria Distrital de Sanga. (2019). Notas colhidas nas entrevistas em sanga (Caderno de Campo).
Timbane, A. A. (2016). A Justiça moçambicana e as questões de interpretação forense: um longo caminho a percorrer. Language And Law / Linguagem e Direito, v. 3, p. 78-97.
Turato, E. (2003). Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis: Vozes.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Copyright (c) 2023 NJINGA&SEPÉ: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Authors who publish in this journal agree to the following terms:
Authors maintain copyright and grant the journal the right to first publication, the work being simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License, which allows the sharing of the work with recognition of the authorship of the work and initial publication in this magazine.
Authors are authorized to assume additional contracts separately, for non-exclusive distribution of the version of the work published in this journal (eg, publishing in institutional repository or as a book chapter), with acknowledgment of authorship and initial publication in this journal.
Authors are permitted and encouraged to publish and distribute their work online (eg in institutional repositories or on their personal page) at any point before or during the editorial process, as this can generate productive changes, as well as increase impact and citation of the published work (See The Effect of Open Access).