O umbundo na esfera educacional da província de Benguela (Angola)

Umbundu kweci catiama kelilongiso kolupale wombaka

Autores

  • Gregório Bembua Kambundo Tchitutumia Universidade Federal de Santa Catarina
  • Cristine Gorski severo Universidade Federal de Santa Catarina

Palavras-chave:

Ensino, Línguas angolanas, Valorização linguística, Língua nacional, Língua portuguesa

Resumo

Este artigo é resultado de um projeto de pesquisa de iniciação científica, que trata sobre a valorização étnico-linguística da língua nacional umbundu em Angola. O objetivo é avaliar o processo de ensino-aprendizagem dessa língua materna angolana como primeira língua (L1), com relação à língua portuguesa como segunda língua (L2), no sul de Angola, na província de Benguela. Enfoca-se o período de letramento escolar, ou seja, quando há o ensino da modalidade escrita do português, língua oficial em Angola, concorrendo com a língua nacional. Para tanto, o artigo apresenta uma contextualização do sistema de ensino do país e da região estudada, com enfoque em uma breve revisão documental; realiza pesquisa de campo com questionário aplicado a professores, dirigentes e pais, totalizando 14 questões e 11 participantes; compara dois currículos do ensino primário. Busca-se, assim, compreender a dificuldade e os desafios de implementação do ensino de umbundu nas instituições escolares da província. O estudo considera, ainda, o uso dessa língua nacional no contexto familiar a partir da perspectiva dos pais consultados. A pesquisa se justifica, pois o ensino de línguas maternas africanas no contexto de Angola tem sido uma tarefa difícil de ser implementada por motivos de preconceitos linguísticos oriundos da época colonial e presentes até os dias atuais. De certo modo, acreditamos que este trabalho contribui para o empenho da esfera educacional angolana de promoção do ensino de línguas nacionais nas escolas, ecoando orientações internacionais (UNESCO, 2010) de incentivo ao ensino em língua materna como política de valorização e de inclusão de crianças na educação básica.

***

Upange ulo watunda ko projeto okusandiliya kwokufetika kukulihiso, wa tyamela kondando yocitumbulukila celimi lyumbundu lyofeka yongola. Ocimaho okukuliha ndomo elilongiso lyelimi lyutila vongola ndelimi lyatete (L1), lokusokisa lelimi lyoputu (L2), kombwelo yongola, vocitunda Combaka. Tu vanja o tembo yokulilongisa okusoneha vocitumalo celilongiso, ale pamue, eci peli okulilongisa konepa yokusoneha velimi lyoputu, elimi lyatumbikiwa vongola, lyendela pamwamwe lelimi lyetu. Omo lyaco, ocisoneha eci: cilekisa otembo tukasi kelilongiso vimbo lyanoliwa oco tutange, lokuvanja lonjanga kovityapa vyasonehiwa ale; citunga lonjanga okusandiliya volokololo alongisi, ovitunda lolo tate vamwe oco vakumbulule apulilo amwe okulinga akwi la kwãla (14) kapulilo; visokisa olonjila vivali vyelilongiso kalima atete. Longila eyi, tupa okulomboloka ovitatamiso lovitangi vyokunena elilongiso lyumbundu kovitumalo vyelilongiso kombaka. Okutanga civanja ndomo elimi lisokupopiwa vapata, okupisa kwevi olotate vipopya. Elongiso eli lisanga omangu ndomo okulongisa alimi ofeka yetu catilã, momo valwa vakwete ovitangi omo lyacikolonha kaputu, vasima okuti okupopia alimi etu aciwa ko omo lyomanu vayolayola kolotembo vyokalye. Omo lyaco, tuci okuti, upange ulo weca ongusu konepa yelilongiso vofeka yo NGOLA, okweca olonjila kolofeka vyokosamwa (UNESCO, 2010) cokupamisa elilongiso lyelimi lyutila ndonjila politica cokweca ondando loku iñisa omalã velilongiso lyutila.

Biografia do Autor

Gregório Bembua Kambundo Tchitutumia, Universidade Federal de Santa Catarina

angolano, da província de Benguela e falante da língua kimbundu como língua materna. Graduado em Letras-Língua Portuguesa e Literatura (Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC) e em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (Centro Universitário Leonardo da Vinci, UNIASSELVI). Foi bolsista PIBIC em 2021-2022 (UFSC). Integrou como bolsista o projeto de extensão “Literaturas Africanas em Língua Portuguesa” (UFSC/CCE Comunidade). Atualmente realiza um segundo PIBIC 2022-2023, vinculado ao projeto Políticas Linguísticas Educacionais (CNPq/UFSC).

Cristine Gorski severo, Universidade Federal de Santa Catarina

Professora Associada III da Universidade Federal de Santa Catarina e docente do Programa de Pós-Graduação em Linguística e do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC). É bolsista do CNPq nível 2. Lidera o grupo de pesquisa Políticas Linguísticas Críticas e Direitos Linguísticos. Membro da coordenação do Ren Africa (Applied Linguistics and Literacy in Africa & the Diaspora Research Network, 2018-) e da comissão de Políticas Públicas da Abralin. Publicações recentes incluem a organização dos seguintes livros: "The Languaging of Higher Education in the Global South" (Routledge, 2022), em parceria com Sinfree Makoni, Ashraf Abdelhay e Anna Kaiper-Marquez; e "Políticas e Direitos Linguísticos: Revisões teóricas, temas atuais e propostas didáticas" (Pontes, 2022).UFSC/CNPq

Referências

ANGOLA. Lei no. 32/20. Lei que altera a Lei No. 17/16, de 07 de Outubro – Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino. Luanda, Diário da República, 2020.

_____. Constituição da República. Luanda: Imprensa Nacional, 2010.

BERNARDO, Ezequiel. Política linguística para o ensino bilíngue em Angola. (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Florianópolis, p. 216, 2018.

CHICUMBA, Mateus. A educação bilingue em Angola e o lugar das línguas nacionais. IV Colóquio Internacional de Doutorandos/as do CES, 6-7 dezembro, 2013.

EDUARDO, Albano A. Ensino bilingue como desafio e passos para mais inclusão no sistema de ensino angolano: Caso Lunda-Norte, 2019-2020. Njinga e Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras. São Francisco do Conde (BA), v.2, n. 1, p.35-57, 2022.

GARCÍA, Ofelia. Bilingual education in the 21st century: A global perspective. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2009.

LUCENA, Maria Inêz. O papel da translinguagem na Linguística Aplicada (in)disciplinar. Revista Da Anpoll, Florianópolis, v. 52, n. 2, p. 25–43, 2021.

KAJIBANDA, Vítor. (2010). Culturas étnicas e cultura nacional: Uma reflexão sociológica sobre o caso angolano. Revista Angolana de Sociologia, Luanda, Vol. 14, n. 3, p. 97-105.

MAKONI, Sinfre, MEINHOF, Ulrike; Linguística Aplicada na África: desconstruindo a noção de “língua”. In: LOPES, Luiz Paulo da Moita (org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. p. 191-211.

MENEZES, Bernardo Kessongo. Harmonização da grafia toponímica do município de Benguela. (Dissertação de Mestrado). Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa, p. 102, 2015.

MINGAS, Amélia A. Línguas e culturas em Angola: Tuzaba mana malele ke zimbembu ai cinkulu ci basi Nsi Ngola. Njinga e Sepé: Revista Internacional De Culturas, Línguas Africanas E Brasileiras, v. 1, n. 2, p. 377–385, 2021.

PARO, Vitor Henrique; DOURADO, Luiz Fernandes (Org.). Políticas públicas e educação básica. São Paulo: Xamã, 2001.

PATATAS, Teresa; QUINTAS, Joana. Em Angola o ensino bilingue pode contribuir para a educação e manutenção da paz nacional. Revista Transversos, Benguela, vol.1, n. 15, 2019, p. 14-30.

SEVERO Cristine; SITOE Bento; PEDRO José. Estão as Línguas Nacionais em perigo? Lisboa: Escolar Editora, 2014.

SEVERO Cristine; SASSUCO, Daniel; BERNARDO, Ezequiel. Português e Línguas Bantu na educação angolana: da diversidade como ‘problema’. Revista Língua e instrumentos Linguísticos, Florianópolis, v. 43, nº 43, p. 290-307, 2019.

SITA, Francisco. A língua umbundu no ensino primário em Angola: uma abordagem ecológica do currículo escolar. 177f. Dissertação de Mestrado. Universidade do Minho, Ciências da Educação, Minho, 2019.

Downloads

Publicado

02-01-2023

Como Citar

Tchitutumia, G. B. K. ., & severo, C. G. (2023). O umbundo na esfera educacional da província de Benguela (Angola): Umbundu kweci catiama kelilongiso kolupale wombaka. NJINGA E SEPÉ: Revista Internacional De Culturas, Línguas Africanas E Brasileiras, 3(1), 367–385. Recuperado de https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/article/view/1080