Kolokason di purtuguis suma uniku lingua di sina ku aprendi na Guiné-Bissau: kaminhu di djunta guinensis ô di manti prujetu di kolon?

A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guiné-Bissau: reforço da unidade nacional ou perpetuação da colonialidade?

Autores

  • Braima Sadjo Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) & Universidade de Brasília (UnB)
  • Eduardo Gomes Machado Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)

Palavras-chave:

Língua Portuguesa, Ensino-Aprendizagem, Colonialidade, Amílcar Cabral, Paulo Freire

Resumo

Es piskiza papia di uzu di lingua purtuguis suma uniku lingua di sina ku aprendi kel na skola na teras ku kolonizadu pa Purtugal, Guiné-Bissau mati tambi nes mandjuandadi. I um conbersa ku tarda, i kunsa na kabantada di luta di libertason nasional di kil teras, ma nes ultimus anus, i sta na tisi manga di conbersa ku pui utrus na toma puzison diferenti di utrus. Amílcar Cabral ku Paulo Freire i djintis ku djubi es asuntu diritu, e papia del tchiu na ladu di Guiné-Bissau, kila ku pui nes tarbadju i djuntadu se falas. Suma ku no pudi odja, pa Amílcar Cabral, lingua purtuguis i um simplis manera di kombersa entri pekaduris na se mandjuandadi. Mas pa manera di odja di Paulo Freire, tene purtuguis suma uniku lingua di sina kel ku aprendi na skola ta bai kaba son pa tudji tarbadju di diskolonizason ianda diritu. Es asuntu sta na djubidu ku udjus di sociologia, pa kila, i tisidu manga di n’tindimentus ku rakadadu na librus kuta tustumunha storia di kil ku papiadu del sobri es purbulema di kudji purtuguis suma uniku lingua pa sina kel na skolas.  Tambi i tisidu luta ku kritika ku fasidu diante des purbulema kuta lebanu pa djubi keku skolia tisi pa prucesu di sina ku aprendi na skolas di Guiné-Bissau. Nes sintidu, i djubidu conbersa di Cabral kudi Freire na ke kuta toka ku lingua ku mas sta diritu pa sina kel na Guiné-Bissau. Es piskiza i di tipu kualitativu, nunde ki uzadu librus, artigus ku disertasons. Purbulema djubidu i odjadu di kuma mididas ku tomadu pa pulitikus ku djintis kuta tarbadja na edukasson di pui purtuguis suma uniku lingua di tarbadju tambi di sina i aprendi kel i bin di kolon i ku tene falta di opinion di manga di djintis. Tambi i falta bom conbersa kuna pudi djubi condison i us di tera i libra di pensamento di kolon na ora di toma disizon. Kaba mas putuguis kata papiadu pa maga di guinensis, djuntadu ku alunus.

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A pesquisa discute o uso do português como a única língua de ensino-aprendizagem nos países africanos marcados pela colonização portuguesa, em particular Guiné-Bissau, debate que remonta ao período final da luta de libertação nacional dos referidos países e tem sido foco de muitos debates e controvérsias nas últimas décadas. Para tanto, dialoga-se com Amílcar Cabral, para quem a língua era uma mera ferramenta de comunicação entre seres humanos, e com Paulo Freire, que entende que a manutenção do português como a língua exclusiva de alfabetização seria um obstáculo para a descolonização das mentes. Pretende-se empreender uma análise sociológica acurada das concepções e referências que historicamente fundamentaram a implementação do português como a única língua de alfabetização na Guiné-Bissau, bem como as resistências e críticas a isso, considerando as suas implicações no processo de ensino-aprendizagem. Assim, estabelece-se um diálogo entre as perspectivas Cabralista e Freiriana no que tange à questão da língua mais apropriada e eficaz para a alfabetização no contexto guineense. Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico. As reflexões já empreendidas permitem inferir que as medidas tomadas por líderes políticos e atores que atuam no domínio da educação foram bastante influenciadas pelo sistema colonial. Portanto, a implementação do português como a única língua oficial e de ensino-aprendizagem no país, além de não contemplar boa parte da população, especialmente os alunos, também parece não ser resultado de uma discussão endógeno-democrática e contra-hegemônica que permita respeitar as diversidades culturas e sociolinguísticas de que o país dispõe.

Biografia do Autor

Braima Sadjo, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) & Universidade de Brasília (UnB)

Bacharel em Humanidades e licenciando em sociologia pela UNILAB. Mestrando em Sociologia na Universidade de Brasília (UnB)

Eduardo Gomes Machado, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)

Professor Associado I da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Ceará (1998), Mestrado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba (2002) e Doutorado em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (2011). Tem experiência na área de Sociologia do Trabalho, Planejamento Urbano, Educação Popular e Formação de Professores, exercendo suas atividades de docência, pesquisa, inovação, extensão e gestão na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).  Pós-Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do CEARÁ (UFC).

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Publicado

30-12-2021

Como Citar

Sadjo, B., & Machado, E. G. . (2021). Kolokason di purtuguis suma uniku lingua di sina ku aprendi na Guiné-Bissau: kaminhu di djunta guinensis ô di manti prujetu di kolon? A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guiné-Bissau: reforço da unidade nacional ou perpetuação da colonialidade?. NJINGA E SEPÉ: Revista Internacional De Culturas, Línguas Africanas E Brasileiras, 1(Especial), 201–224. Recuperado de https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/article/view/858

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Seção I - Artigos inéditos e traduções/interpretações