A Realidade Cantada: a canção enquanto complemento interdiscursivo para literatura africana de língua portuguesa
A Realidade Cantada: the song as an interdiscursive complement to Portuguese-speaking African literature
Resumo
O presente ensaio propõe discutir, a partir da falta de acesso e leitura da literatura africana de língua portuguesa em seus países africanos de língua oficial portuguesa, como as canções desempenharam uma função central nos anos de 1960 e 1970 para comunicar e tornar popular os ideais e características que essa literatura buscava apresentar. Junto a esse exercício, é também apresentado como, em uma realidade transatlântica, a canção brasileira de protesto desempenhava funções similares, demonstrando de forma holística como o colonialismo e a luta anticolonial constelavam durante esse período, tornando as canções da época uma ferramenta essencial para compreender as tendências estéticas, ideológicas e literárias de antigas colônias portuguesas em seu processo de emancipação social. Busca-se, portanto, explicitar essa disputa com o antigo colonizador, os pontos comuns que a anticolonialidade caracteriza nessas realidades, e como, mesmo precisando de um mercado externo para se legitimar por conta das dificuldades de inserção no mercado local, a literatura nos países africanos delimitados, como Angola, Moçambique e Cabo Verde ainda possuíam seus ideais e propostas vivos a partir das canções compostas no contexto das Guerras Coloniais. Espera-se, a partir da reflexão suscitada no presente trabalho, instigar o envolvimento de recursos interdiscursivos, principalmente envolvendo a canção de protesto, de cunho popular, para investigação das dinâmicas literárias das realidades escolhidas e analisadas.
***
Abstract: This essay proposes to discuss, based on the lack of access and reading of Portuguese-speaking African literature in its official Portuguese-speaking African countries, how songs played a central role in the 1960s and 1970s to communicate and make popular songs. ideals and characteristics that this literature sought to present. Along with this exercise, it is also presented how, in a transatlantic reality, the Brazilian protest song performed similar functions, demonstrating in a holistic way how colonialism and the anti-colonial struggle constellated during this period, making the songs of the time an essential tool for understanding the aesthetic, ideological and literary trends of former Portuguese colonies in their process of social emancipation. The aim is, therefore, to clarify this dispute with the former colonizer, the common points that anti-coloniality characterizes in these realities, and how, even though it needs a foreign market to legitimize itself due to the difficulties of insertion in the local market, literature in countries Delimited Africans such as Angola, Mozambique and Cape Verde still had their ideals and proposals alive from the songs composed in the context of the Colonial Wars. It is expected, from the reflection raised in this work, to instigate the involvement of interdiscursive resources, mainly involving the popular protest song, to investigate the literary dynamics of the chosen and analyzed realities.
Downloads
Referências
Almeida, J. N. (2018). Negrismo e negritude na história da música popular brasileira: entre textos e canções. ITINERÁRIOS–Revista de Literatura, Araraquara (46): 165-184;
Alves, A. P. (2013). Angola: musicalidade, política e anticolonialismo (1950-1980). Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, 5 (10): 373-396.
Alves, T. J. J. (2019). Duas ditaduras Ibero-Americanas: as relações diplomáticas entre Brasil e Portugal (1964 e 1974). Revista de História da UEG, 8(1): e811917-e811917.
Arruda, L. J. (2012). Aspectos identitários em músicas de intervenção cabo-verdiana entre 1935-1975. p.102. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.
Bebiano, R. (2002). A resistência interna à guerra colonial. História, (51): 40-47.
Campos, J. S. (2008). A historicidade das literaturas africanas de língua oficial portuguesa. Cadernos de história: I Seminário de Pesquisa da Pós-Graduação em História UFG/UCG, Goiás, 1(1): 1-28.
Cidra, R. (2018). Cabral, popular music and the debate on Cape Verdean creoleness. Postcolonial Studies, 21(4): 433-451.
Contier, A. D. (1998). Edu Lobo e Carlos Lyra: o nacional e o popular na canção de protesto (os anos 60). Revista brasileira de história, 18(35): 13-52.
Fonseca, M. N. S., & Moreira, T. T. (2007). Panorama das literaturas africanas de língua portuguesa. Cadernos CESPUC de Pesquisa, (16): 13-69.
Freire, V. L. B., & Augusto, E. S. (2014). Sobre flores e canhões: canções de protesto em festivais de música popular. Per Musi, (29): 220-230.
Geraldes, B. S. C. (2011). Guerra colonial e romance: perscrutando o repúdio do mito estado novista da África portuguesa. p.131. Tese (Doutorado) - Universidade da Beira Interior, Covilhã.
Gilroy, P. (1993). The black Atlantic: Modernity and double consciousness. London, Verso.
Hamilton, R. G. (1995). The audacious young poets of Angola and Mozambique. Research in African Literatures, Bloomington, 26(1): 85-96.
Heywood, L. (1999). The Angolan‐Afro‐Brazilian cultural connections. Slavery & abolition, London, 20(1): 9-23.
Kuumba, M. B. (2006). African women, resistance cultures and cultural resistances. Agenda, London, 20 (68): 112-121.
Mata, I. (2016). A mediação literária da realidade colonial: representações da realidade nas literaturas africanas em português. Scripta, Belo Horizonte, 20 (39): 81-93.
Mendonça Júnior, F. C. G. (2017). A música como forma de resgate histórico em Angola: O 27 de maio de 1977 referido no rap local. Revista convergência crítica, Niterói, (11): 168-195.
Meneses, M. P. (2021). Moçambique: entre a narrativa histórica oficial e as memórias plurais. Nómadas, Bogotá, 53 (53): 13-31.
Pereira, M. S. (2019). Entre o subsídio e a subversão: Negociações e disputas ao redor dos "batuques" e das "danças nativas" no Sul de Moçambique (1900-1950). Revista de História, São Paulo, (178): 1-38
Rosi, B. G. (2011). As relações Brasil-África no regime militar e na atualidade. Conjuntura Austral, Porto Alegre, 2(3-4): 31-46.
Silva, G. B., & Schmidt, J. P. (2020). Canção Engajada no Cone Sul: Possíveis Aproximações Em 1973. Revista Científica/FAP, Curitiba, 23(2): 275-293
Vecchi, R., & Ribeiro, M. C. (2012). A memória poética da guerra colonial de Portugal na África. Os vestígios como material de uma construção possível. p.87-105.
Sedlmayer, S., & Ginzburg, J. (2015). Walter Benjamin: rastro, aura e história. Belo Horizonte, Editora UFMG.
Vilar, F. (2018). A África no cânone na literatura lusófona pós-colonial. Letrônica, Porto Alegre, 11(1): 55-64.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 NJINGA e SEPÉ: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
1.Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License o que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista. A Revista usa a Licença CC BY que permite que outros distribuam, remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho, mesmo para fins comerciais, desde que lhe atribuam o devido crédito pela criação original. É a licença mais flexível de todas as licenças disponíveis. É recomendada para maximizar a disseminação e uso dos materiais licenciados.
2.Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório digital institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3.Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal, nas redes sociais) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Trata-se da política de Acesso Livre).