O papel do bilinguismo e da educação bilingue no contexto deste século para Moçambique

Ntirho wa tindzimi timbirhi na dyondzo yi tindzimi timbirhi eka xiyimo xa lembe xidzana leri eka Mozambhiki

Autores

  • Arlindo José Cossa Universidade Eduardo Mondlane - Moçambique

Palavras-chave:

Importância, Ensinar, Línguas locais, Século XXI, Moçambique

Resumo

Este artigo busca trazer a importância de se ensinar as/em línguas locais em Moçambique, em pleno Séc. XXI era das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), da globalização e das hegemonias linguísticas no mundo, mas também das línguas menorizadas. O ensino das/em línguas moçambicanas é um direito linguístico e é inalienável para o povo deste país e do mundo. Nesta óptica, em termos gerais, pretendemos examinar o papel e os motivos que levam ao ensino das línguas locais no contexto deste século. Especificamente, visamos (i) Analisar a importância de se ensinar as/em línguas autóctones no xadrez global; (ii) Analisar o papel das línguas locais na resolução dos problemas de Moçambique; e (iii) Analisar o valor destas línguas, do bilinguismo e da educação bilingue num mundo globalizado. Para perseguirmos estes objectivos, colocamos as seguintes perguntas de pesquisa: (i) Por que ensinar as/em línguas locais se não globalizam, pois não são línguas de comunicação mais amplas como o Inglês, o Espanhol, o Francês, o Português, o Mandarim, por exemplo? E (ii) Que papel as línguas locais podem ter no xadrez global? Como Menezes (2012) mostra, existe um certo cepticismo em grupos de pais, de políticos e de académicos, em Moçambique, em relação ao ensino bilingue, até aqui ainda não muito conhecido. No que tange ao referencial teórico, este trabalho apoia-se nas perspectivas de Stroud (2003), Williams (2011), Bamgbose (2011), Chimbutane (2013; 2015), PNUD (2019), entre outros. Em termos metodológicos, privilegiamos a pesquisa bibliográfica. Os resultados da pesquisa revelam que o ensino das/em línguas locais reveste-se duma importância para o desenvolvimento do capital humano moçambicano, permite o acesso às tecnologias, à inteligência artificial e à aldeia global, o acesso à informação e justiça e à redução das desigualdades sociais. O ensino das/em línguas moçambicanas é importante para os aspectos que envolve a identidade, a inclusão e a distribuição equitativa do desenvolvimento.

***

Nkongometo wa ndzavisiso lowu i kuxopa-xopa nkoka wa kudyondzisa ka/hi tindzimi ta laha eMozambhiki, eka lembe-xidzana ra vu 21, eka nguva ya Tithekinoliji ta Mahungu na Vuhlanganisi (ICT), niya kuhlanganisiwa ka misava hinkwayo, na vulawuri bya tindzimi leti vuliwaka letikulu emisaveni, kambe nakona ya tindzimi letivuliwaka letitsongo. Kudyondzisiwa ka/hi tindzimi eMozambhiki i mfanelo ya vahanyitiku hinkwavo leyi i nga ni lisima swongasi eka vahanyitiku ni misavani hinkwayo. Kuvayihlota nkongomo lowu, hi vutisile swivitiso leswi: (i) hikokwalaho ka yini kudyondzisiwa ti/hi tindzimi tandhawu yo karhi letitinga enetiki misava hinkwayo, tanihileswi tingariki tindzimi tavuhlanganisi emisaveni, ku fana ni Xinghiza, Xipanyola, Xifaransa ni Xiputukezi, xana? Naswona (ii) Hi wihi ntirho wa tindzimi letivulivaka ku ilititsongo emisaveni hinkwayo, xana? Tani hi laha Menezes (2012) a kombisaka hakona, kuna kukanakana eka vapswele, nivapolitiki kuyafika eka vadyondzi, mayelanu nifundu wakutirhisa tindzimi timbirhi lomu swikolweni, leswi kufika swoswi swikalaka swinga tiviwike hahombe. Hitlhelo la thiyori, ntirho lowu wuseketeliwe himabuku lawa: Stroud (2003), Williams (2011), Bamgbose (2011), Chimbutane (2013; 2015), UNDP (2019), ni vanwana vatsari. Hikuya himaendlelo, ndzavisiso lowu uendliwe hi kulandza ka bibliyografi. Mihandzu ya ndzavisiso yi paluxa leswaku kudyondzisiwa ka/hi tindizimi ta laha tikweni i swa nkoka swinene eka nhluvikiso wa vanhu etikweni, hikuva yikutirhisiwa ka tindzimi leti vangaswikota kudyondza thekinoliji, vanga woka vutlhari byo yelana niku tirisa makhomphyuta ni inthanete, vathlela vanghena maldeyeni ya misava hinwkayo, nakona swapfuna vanhu eku koleni ka mahungu mavulavulaka i swilo swotala, kufana nikutivikela ka mavabyi, kutihlamulela kuxuxeni katimhaka nambhi kulaveni kavaavanyisi kumbe vagqweta, nakona swingapumba nkange eka vanhu hambhi nikulwa ninjandza niwusweti. Kudyondzisiwa ka/hi tindzimi eka vana vaMusambiki i swa nkoka hikuva swiyentxa vanhu vatitiva umunhu byavona, nakona swasiza kukatseni ka vanhu hinkwavo, nikuyavana yikuringana futsi kupfumeleliweke ndzeni ka nhluvukiso ya vanhu nitiku.  

Biografia do Autor

Arlindo José Cossa, Universidade Eduardo Mondlane - Moçambique

Mestrado em Bilinguismo e Educação Bilingue pela Universidade Eduardo Mondlane. Áreas de interesse: Bilinguismo e Ensino, Línguas, culturas locais e ensino de Inglês, Xichangana e Português.

Referências

Alidou, H. (2004). Medium of instruction in post-colonial Africa. In: Tollefson, J. W. & Tsui, A. B. M (Eds.) Medium of Instruction Policies: Which Agenda? Whose Agenda? London: Lawrence Erlbaum, p.195–214.

Alidou, H. & Jung, I. (2001). Education language policies in Francophone Africa: What have we learned from the field experiences? In: Baker, S. (Ed.) Language Policy: Lessons from Global Models. Monterey: Monterey Institute of International Studies, p.59–73.

Baker, C. (2006). Foundations of Bilingual and Bilingualism. 4th ed. Clovedon. Toronto: Multilingual Matters.

Bamgbose, A. (2011). African languages today: The challenge of and prospects for empowerment under globalization. In Bokamba, E. G. et al. (Eds.). Selected proceedings of the 40th Annual Conference on African Linguistics. Somerville, MA: Cascadilla Proceedings Project, p.1-14.

Bamgbose, A. (2008). Language and Good Governance. (Nigerian Academy of Letters Convocation Lecture 2005 edited by B. O. Oloruntimehin). Ibadan: The Nigerian Academy of Letters.

Bamgbose, A. (2000). Language and exclusion. Munster- Hamburg – London: LIT VERLAG. Benson, C. (2000). The primary bilingual education experiment in Mozambique, 1993 to 1997. International Journal of Bilingual Education and Bilingualism. (3)3, p.149-166.

Benson, C. (1998). Alguns resultados da avaliação externa na experiência de escolarização bilingue em Moçambique. In: C. Stroud & A. Tuzine (Eds.) Uso de Línguas Africanas no Ensino: Problemas e Perspectives. Cadernos de Pesquisa, 26, Maputo: INDE, p.279-301.

Benson, C. (1997). Relatório final sobre o ensino bilingue: Resultados da avaliação externa da experiência de escolarização bilingue em Moçambique. Maputo: INDE.

Bourdieu, P. (1991). Language and symbolic power. Cambridge, MA: Harvard University Press.

Buendía, G. M. (1999). Educação moçambicana. História de um processo: 1962-1984. Maputo: Universidade Eduardo Mondlane.

Canevacci, M. (1996). Sincretismos: uma exploração das hibridações culturais. São Paulo: Studio Nobel.

Chambo, G. A. (2018). Revitalização dos ambientes participativos e interactivos na educação bilingue em Moçambique através do translanguaging e do cross-cultural learning. Tese de doutoramento (não publicada) Vigo: Universidade de Vigo, p.167-219.

Chimbutane, F. (2015). O uso da L1 dos alunos como recurso no processo de ensino e aprendizagem de/em Português/L2: o contexto de Ensino Bilingue em Moçambique. Revista Científica UEM: Série: Letras e Ciências Sociais, (1) 1, p.7-23.

Chimbutane, F. (2013). Code-switching in L1 and L2 learning contexts: Insights from a study of teacher beliefs and practices in Mozambican bilingual education programmes. Language and Education, (1) 1, p.1-15.

Chimbutane, F. (2011). Rethinking bilingual education in postcolonial contexts. Toronto: Multilingual Matters.

Cossa, A. J. (2022). O impacto do translanguaging no ensino-aprendizagem da língua inglesa em contextos em que se fala as línguas locais e o Português: O caso da Escola Secundária de Xikanyanini de Ressano Garcia, dissertação de Mestrado, (não publicada) Maputo: Universidade Eduardo Mondlane.

Delors et al. (1998). Educação um tesouro a descobrir: Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez.

Diallo, I. (2011). To understand lessons; think through your own languages. An analysis of narratives in support of introduction of indigenous languages in the education system in Senegal. Language Matters, (42)2, p.207-230.

Djité, P. G. (1993). Language and development in Africa. International Journal of the Sociology of Language, (100) 101, p.149–166.

García, O. (2009). Bilingual education in the 21st century: A global perspective. Oxford: Blackwell.

Gil, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas.

INDE/MINED (2003). Plano curricular de ensino: Objectivos, política, estrutura, plano de estudos e estratégias de implementação. Maputo: INDE/MINED, p.30-67.

INE (2019). IV Recenseamento geral da população e habitação de 2017: Resultados definitivos Moçambique. Maputo: INE.

Lavoie, C. (2008). ‘Hey, teacher, speak black please’: The educational effectiveness of bilingual education in Burquina Faso. International Journal of Bilingual education and Bilinguism, (11) 6, p.661-677.

Machiko, N. & Erik, T. (2005). The impact of globalization on the world's poor: Transmission mechanism. Basingstoke, Hampshire: Palgrave Macmillan.

Malindi, M. M. (2018). The impact of globalisation on African languages and cultures: A study of selected discourses. NWU, p. 1-50.

Marconi, M. & Lakatos, E. (2003). Fundamentos de metodologia científica. 5a ed., São Paulo: Atlas editora.

Mazrui, A. (2000). The World Bank, the language question and the future of African education. In Federici, S., Caffentzis, G. & Alidou, O. (Eds.) A Thousand Flowers: Social Struggles against Structural Adjustment in African Universities. Trenton, NJ: Africa World Press, p.43–59.

Mbeki, G. (2000). The relevance of African languages for education and development. Foreword to Kwesi K. Prah (ed.), Cape Town: CASAS, xi – xiii.

Menezes de Sousa, L. M. T. (2004). Hibridismo e tradução cultural em Bhabha. In Abdala, B. (Ed.) Margens da Cultura. São Paulo: Boi Tempo Editorial, p.113-133.

Menezes, L. J. J. M. (2012). Interferências das línguas maternas de origem bantu no português falado em Moçambique por alunos de educação bilingue: Considerações preliminares. Paraná: Universidade Estadual do Oeste do Paraná, CESUL.

MINEDH (2018). Estratégia de expansão do ensino bilingue 2020-2029. Maputo: MINEDH.

MINEDH & UNESCO (2019). Revisão de políticas educacionais – Moçambique: ODS4-Educação 2030. Maputo: MINEDH/UNESCO.

Ngunga, A. (2018). “Línguas nacionais são receita de sucesso nas escolas moçambicanas”. In Jornal DW, 24 de Abril 2018. Disponível em https://www.dw.com Acesso em: 20 dez.2020.

Ngunga, A. & Faquir, O. (2012). Padronização das línguas moçambicanas: Relatório do III seminário. Maputo: Centro dos Estudos Africanos.

Ngunga et al. (2010). Educação bilingue na província de Gaza. Avaliação de um modelo de ensino. In Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH). Estratégia de expansão do ensino bilingue 2020-2029. Maputo: MINEDH.

Nhampoca, E. A. C. (2015). Ensino bilingue em Moçambique: Introdução e percursos. Universidade de Santa Catarina. Florianópolis: Universidade de Santa Catarina, 62:2, 82-100.

Patel, S. A. (2012). Um olhar para a formação de professores de educação bilingue em Moçambique : Foco na construção de posicionamentos a partir do lócus de enunciação e actuação. Campinas: UNICAMP.

Patel S. A., Majuisse A. & Tembe, F. (2018). Manual de Línguas Moçambicanas: Formação de professores do ensino primário educação de adultos. Maputo: Progresso/MINEDH.

Pedro, J. (2018). “Línguas Nacionais Não Têm Estatuto Próprio.” In: Jornal de Angola, 21 de Fev. 2018. Disponível em: https://jornaldeangola.sapo. Acesso em: 24 jun.2020.

Phillipson, R. (1992). Linguistic imperialism. Oxford: Oxford University Press.

PNUD (2019). Relatório do desenvolvimento humano 2019. Além do rendimento, além das médias, além do presente: Desigualdades no desenvolvimento humano no século XXI. Nova Iorque: PNUD.

Quebi, D. O., Timbane, A. A. & Abula, R. A. M. (2017). As políticas linguísticas nos PALOP e o desenvolvimento endógeno. RILP - Revista Internacional em Língua Portuguesa, (31)1, p.23-46.

Robinson, C. D. W. (1996). Language use in rural development: An African perspective. Berlim: de Gruyter Mouton.

Rodrigues, A. L. (2011). A língua inglesa na África: opressão, negociação, resistência. Campinas. SP: UNICAMP/FAP.

Skutnabb-Kangas, T. (2012). Indigenousness, human rights, ethnicity, language and power. International Journal of the Sociology of Language. Berlim: De Gruyter Mouton, p.87-104.

Skutnabb-Kangas, T. (2000). Rights to language: Equity, power, and education. Mahwah: Lawrence Erlbaum Associates.

Soja, E. (1989). Post-modern geographies. London: Vero.

Stroud, C. (2003). Postmodernist perspectives on local languages: African mother-tongue education in times of globalisation. International Journal of Bilingual Education and Bilingualism, 6:1, p.17-36.

Timbane, A. A. (2018). A relevância do ensino de línguas estrangeiras na formação de policiais em Moçambique. Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo, 14:1, p.119-139.

Timbane, A. A. & Rezende, M. C. M. (2016). A língua como um instrumento opressor e libertador no contexto lusófono: O caso do Brasil e Moçambique. Revista Travessias, (10) 3, p.388-408.

Tollefson, J. W. (1991). Planning language, planning inequality. Harlow: Longman.

UNESCO (2003). Open file on inclusive education. Paris: UNESCO.

UNESCO (1996). Declaração Universal dos Direitos Linguísticos. Paris: UNESCO.

UNESCO (1992). A literature world. Paris: UNESCO.

UNESCO (1953). The use of the vernacular languages in education. Monographs on fundamental education VIII. Paris: UNESCO.

Vieira, S. (2011). Participei por isso testemunho, 2.ed. Maputo: Ndjira.

Williams, E. (2011). Language policy, politics and development in Africa. In: Coleman, H. (Ed.) Dreams and realities: developing countries and the English language. Paper 3. London: British Council, p.1-20.

Downloads

Publicado

12-07-2023

Como Citar

Cossa, A. J. (2023). O papel do bilinguismo e da educação bilingue no contexto deste século para Moçambique: Ntirho wa tindzimi timbirhi na dyondzo yi tindzimi timbirhi eka xiyimo xa lembe xidzana leri eka Mozambhiki. NJINGA E SEPÉ: Revista Internacional De Culturas, Línguas Africanas E Brasileiras, 3(2), 424–447. Recuperado de https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/article/view/1304