O direito à língua e à comunicação na variedade do português de Angola: jogo de forças entre língua oficial, línguas nacionais e norma emergente

OKifamenu ku dizwi ni ku utangelu mu uvudilu wa dizwi dya phutu dya Ngola: ubhangelu wa jinguzu mukaxi ka dizwi dya ixi, mazwi a uvalukilu ni kitumu kya utombeku

Autores

  • Ana Alexandra Silva Universidade de Évora - Portugal
  • José Gabriel Ganga Universidade Católica de Angola - Angola

Palavras-chave:

educação, direito, língua, variação

Resumo

O ensino da língua portuguesa em Angola está condicionado por fatores linguísticos, que se prendem com o contacto entre línguas de estruturas muito afastadas, e por fatores extralinguísticos, resultantes do contexto social, cultural e político. Assim, partimos de uma contextualização sociolinguística baseada em autores como Fernandes e Ntondo (2002), Gonçalves (2013), Miguel (2014), Adriano (2015), Inverno (2018) e Severo, Sassuco e Bernardo (2019). O aporte teórico constituído por estas referências permitirá analisar as características morfossintáticas resultantes do contacto linguístico entre o Português Europeu e as línguas Bantu. O nosso estudo centrar-se-á em quatro fenómenos morfossintáticos, a saber, a pronominalização, a concordância verbal e nominal, o uso das preposições e o uso dos tempos verbais. A partir de uma amostra de 34 textos produzidos por alunos do Instituto Médio Industrial de Luanda, pretende-se desenvolver uma análise descritivo-interpretativa que torne público aspetos do Português Angolano, evidências de uma norma emergente no seio da sociedade. O jogo de forças entre a língua portuguesa e uma das línguas nacionais faladas em ambiente familiar cria assimetrias no sistema de ensino, podendo conduzir a taxas de insucesso bastante elevadas.  O direito ao uso da Variedade do Português de Angola (VAP) poderia constituir um elemento facilitador do processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa.

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Oulongesu wa dizwi dya phutu mu Ngola kyakala ni maka alungu ku ifwa ya mazwi, atokala ni uzukamenu mukaxi ka mazwi a kifwa kyasetuka kyavulu, ni ku ifwa akala bukanga dya mazwi, yalungu ni ukexilu wa mundu, wa ifwa ni idifwa ni wanji. Mu kiki, twatundu mu kikexilu kya sosiyolingwixitika yalungu ni jingana kala Fernandes ni Ntondo (2002), Gonçalves (2013), Miguel (2014), Adriano (2015), Inverno (2018) ni Severo, Sassuco ni Bernardo (2019).  Okikwatekesu kyakokejeka kwala athu ya kyandabhana phala kutonginina oifwa molofosintatika itunda ku uzukamenu wa dizwi mukaxi ka Dizwi dya Phutu dya Olopa ni mazwi a Bantu. Oulongesu wetu yandakala mukaxi ka isunji iwana ya mofolosintatika, mukwijiya, oubhinganesu, ouxikinu wa dyaka ni ya dijina, oukwatelu wa idyangesu ni ukwatelu wa ithangana ya myaka. Mu udyangesu wa kilondekesu kimoxi kya 34 ya itangelu yabhange kwala maxibhulu ya Instituto Médio Industrial ya Luanda, amesena kukudisa kitongininu kimoxi kya kutangela ni kya kixinganeku kibheka mu tubhya ifwa ya Dizwi dya Phutu dya Ngola, izangeleku ya kitumu kimoxi kya utombeku mukaxi ka mundu.Oubhangelu wa jinguzu mukaxi ka dizwi dya phutu ni dizwi dimoxi dya uvalukilu yazwela mukaxi ka mwiji iyengi mu kitolo kya ulongesu, itena kwendesa ojinzongo ja kutolola avulu kyavulu. OKifamenu kya kuzwela oPhutu ya Ngola hinu yexikala ngamba imoxi yakukwatekesa ophangu ya kulonga ni kwijia ya dizwi dya phutu.

Biografia do Autor

Ana Alexandra Silva, Universidade de Évora - Portugal

Doutorada em Linguística pela Universidade de Évora, Portugal, membro integrado do Centro de Estudos em Letras. Atualmente é Professora Auxiliar no Departamento de Linguística e Literaturas da Universidade de Évora.

José Gabriel Ganga, Universidade Católica de Angola - Angola

Doutorado em Linguística pela Universidade de Évora, Portugal, membro colaborador do Centro de Estudos em Letras. Atualmente é Professor de Língua Portuguesa na Universidade Católica de Angola.

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Publicado

29-05-2023

Como Citar

Silva, A. A., & Ganga, J. G. (2023). O direito à língua e à comunicação na variedade do português de Angola: jogo de forças entre língua oficial, línguas nacionais e norma emergente: OKifamenu ku dizwi ni ku utangelu mu uvudilu wa dizwi dya phutu dya Ngola: ubhangelu wa jinguzu mukaxi ka dizwi dya ixi, mazwi a uvalukilu ni kitumu kya utombeku. NJINGA E SEPÉ: Revista Internacional De Culturas, Línguas Africanas E Brasileiras, 3(Especial I), 301–319. Recuperado de https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/article/view/1236