ETNOGRAFIA VISUAL E DIVERSIDADE RELIGIOSA E ESPIRITUAL NA REDE DE COZINHAS COMUNITÁRIAS DO GRANDE BOM JARDIM
Palavras-chave:
Cozinhas comunitárias; Grande Bom Jardim; diversidade religiosa; povos e comunidades tradicionais; espiritualidade.Resumo
As fotografias foram feitas entre 2023 e 2024, através de visitas a 20 cozinhas comunitárias do Grande Bom Jardim, efetuando-se uma etnografia visual, buscando acompanhar e entender aspectos da dinâmica cotidiana, da mística, da capilaridade territorial e da relação com comunidades, grupos sociais e famílias vulneráveis. Este ensaio visual destaca a diversidade religiosa e espiritual que compõe a Rede de Cozinhas Comunitárias do Grande Bom Jardim (https://www.instagram.com/redecozinhascomunitariasgbj/; https://cozinhascomunitariasgbj.org.br/, em Fortaleza, Ceará, com instituições, cozinhas e lideranças de filiação espírita, católica, evangélica, neopentecostal e de religiões de matrizes afroameríndias, particularmente a Umbanda e o Candomblé. As visitas vincularam-se ao projeto de iniciação científica e tecnológica “Cozinhas comunitárias como tecnologias sociais: uma análise a partir do Grande Bom Jardim, Fortaleza, Ceará”, e ao Projeto de Extensão, Arte e Cultura (PIBEAC) Diálogos Urbanos, nas edições entre 2020 e 2025. Foram entrevistadas lideranças e feitos registros visuais, através de vídeos e fotografias, que permitiram evidenciar a relevância da atuação das cozinhas comunitárias no enfrentamento à fome, em articulação com outras ações sociais. Por meio da atuação no território, fomos percebendo como os alimentos e o alimentar, as culturas alimentares, as religiosidades, as espiritualidades, as cosmologias e o protagonismo político popular-comunitário se entrelaçam, evidenciando a densidade, complexidade e relevância democrática e cidadã das agencialidades popular-comunitárias do Grande Bom Jardim.
Neste ensaio visual, apresentamos oito fotografias, que expressam e revelam parte da diversidade religiosa e espiritual e da densidade cosmológica e societal na Rede de Cozinhas Comunitárias e no território do Grande Bom Jardim. As fotografias evidenciam como a presença de religiosidades/espiritualidades compõem a constituição urbana do território, as vivências cotidianas e o protagonismo ético-político popular-comunitário. A etnografia visual fomentou reflexões acerca das práticas culturais e ritualísticas das diversas tradições religiosas e/ou espirituais, desde as mais tradicionais do cristianismo até as práticas afro-indígenas, pensando como essas tradições dialogam com as práticas alimentares em uma lógica religiosa. Refletimos sobre como as práticas de alimentação votiva estão interligadas às ações sociais, evidenciando articulações entre ancestralidade e cultura alimentar e, ao mesmo tempo, como as influências da cidade e os desafios sociais afetam a manutenção dessas práticas. Também refletimos sobre como estas estão ligadas diretamente às cozinhas comunitárias, como a comunidade se relaciona com essas práticas e como isso se difunde no contexto social que transcende os adeptos das religiões/espiritualidades ali presentes. Seria importante também pensar na ideia de um grande polo ou eixo ecumênico social, onde as práticas religiosas de servir confluíssem no âmbito do movimento popular-comunitário do Grande Bom Jardim. Para finalizar, a convivência na Rede de Cozinhas Comunitárias é indício de uma postura democrática. As fotografias foram feitas por Nathyelly Araújo dos Santos. Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), ao Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), ao Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), à Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável (Rede DLIS) e à Rede de Cozinhas Comunitárias do Grande Bom Jardim e a cada uma de suas instituições, cozinhas e lideranças.