Por onde circulam os corpos invisíveis? Intersecções entre população em situação de rua e gêneros dissidentes no acesso institucional urbano

Autores

  • Brune Coelho Brandão Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF
  • Nathália Carneiro da Cunha Prados Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF
  • Juliana Perucchi Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF

Palavras-chave:

Gênero, Identidades Trans, Travesti, População de rua, Assistência Social

Resumo

No Brasil, historicamente a população negra e indígena sofreu violências que as colocaram em uma posição de subalternidade, de modo a produzir diferentes posições de sujeitos de (sem) direito. Nos diais atuais, esse processo histórico, político e social possibilitou, através da noção de direito neoliberal no país durante o período de redemocratização, que essas pessoas historicamente a margem ocupassem uma nova posição de sujeito – a de população em situação de rua. Além disso, o Brasil é o país que apresenta grande índice de violência contra a população travesti e transexual. De modo, esse trabalho, com base na perspectiva interseccional feminista, busca uma articulação entre os marcadores sociais de classe, raça e gênero, de modo a problematizar as limitações dos acessos institucionais que pessoas travestis e transexuais em situação de rua vivenciam no município. Realizou-se uma observação flutuante, consoante com os pressupostos da etnografia, nas instituições em que tais sujeitos circulavam na cidade. Através disso, foi elaborado um diário de campo com impressões e falas, analisados sob a ótica metodológica da análise do discurso de Foucault. Como resultado, pode-se destacar o papel normatizador e repressor da polícia em reiterar sua posição subalterna, a lógica caritativa que atravessa os serviços de assistência social no município e a falta de conhecimento acerca do gênero enquanto construção social pelos profissionais. Além disso, há apontamentos acerca de diferentes modos de subjetivação de tais pessoas, que não se reconhecem nem como transexual nem como travesti.

Biografia do Autor

Brune Coelho Brandão, Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF

Psicóloga - UFJF Mestra em Psicologia - UFJF Doutoranda do Programa de Pós Graduação de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF

Nathália Carneiro da Cunha Prados, Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF

Bacharel em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF

Graduanda em Ciências Socais pela Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF

Juliana Perucchi, Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF

Professora Associada I do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF

Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008)

 

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Publicado

27-12-2019

Edição

Seção

Dossiês Temáticos