Por onde circulam os corpos invisíveis? Intersecções entre população em situação de rua e gêneros dissidentes no acesso institucional urbano
Palavras-chave:
Gênero, Identidades Trans, Travesti, População de rua, Assistência SocialResumo
No Brasil, historicamente a população negra e indígena sofreu violências que as colocaram em uma posição de subalternidade, de modo a produzir diferentes posições de sujeitos de (sem) direito. Nos diais atuais, esse processo histórico, político e social possibilitou, através da noção de direito neoliberal no país durante o período de redemocratização, que essas pessoas historicamente a margem ocupassem uma nova posição de sujeito – a de população em situação de rua. Além disso, o Brasil é o país que apresenta grande índice de violência contra a população travesti e transexual. De modo, esse trabalho, com base na perspectiva interseccional feminista, busca uma articulação entre os marcadores sociais de classe, raça e gênero, de modo a problematizar as limitações dos acessos institucionais que pessoas travestis e transexuais em situação de rua vivenciam no município. Realizou-se uma observação flutuante, consoante com os pressupostos da etnografia, nas instituições em que tais sujeitos circulavam na cidade. Através disso, foi elaborado um diário de campo com impressões e falas, analisados sob a ótica metodológica da análise do discurso de Foucault. Como resultado, pode-se destacar o papel normatizador e repressor da polícia em reiterar sua posição subalterna, a lógica caritativa que atravessa os serviços de assistência social no município e a falta de conhecimento acerca do gênero enquanto construção social pelos profissionais. Além disso, há apontamentos acerca de diferentes modos de subjetivação de tais pessoas, que não se reconhecem nem como transexual nem como travesti.
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