O empalhamento da performance: a drag queen como cobaia mainstream do parque farmacopornográfico

Autores

  • Ribamar José de José de Oliveira Junior Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Palavras-chave:

Drag Queen, Farmacopornografia, Capitalismo

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo discutir a dimensão aurática da performance drag queen nas dinâmicas do tecnocapitalismo. Ao levar em consideração as contribuições de Preciado (2018) sobre a biopolítica e o regime farmacopornográfico diante dos processos de tecnificação gestionados pelo corpo, pretende-se perceber como o capitalismo artista (LIPOVETSKY; SERROY, 2015) através do poder performativo de produzir artefatos, empalha a performance do fenômeno drag queen como forma de controle da subjetividade na era transestética. Nesse sentido, vale considerar a dimensão semiótica-técnica da produção performativa de gênero, no sentido de perceber que a performance drag no circuito de consumo da indústria cultural se aproxima da produção de subjetividades tóxicas-pornográficas (PRECIADO, 2018). Portanto, tendo em vista a pornificação do trabalho dentro do circuito fechado da excitação-capital-frustração-excitação-capital, a drag queen parece cada vez mais distante da dimensão aurática da emergência política e cada vez mais próxima do tecnogozo que o verniz plástico do consumo desenha como mais valia do proletariado farmacopornográfico.

Referências

AITKENHEAD, Decca. RuPaul: Drag is a big f-you to male-dominated culture. The Guardian. 3 de março de 2018. Acesso em 25 de setembro de 2018. Disponível em <https://www.theguardian.com/tv-and-radio/2018/mar/03/rupaul-drag-race-big-f-you-to-male-dominated-culture>

ALVES, Alê. Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. El País. 27 de julho de 2017. Acesso em 28 de setembro de 2018. Disponível em <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/27/politica/1501114503_610956.html>

BAITELLO JR, Norval. A era da iconofagia. São Paulo: Hacker, 2005.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: obras escolhidas. Brasiliense, 2017.

BEZERRA, Flávia. Pabllo Vittar: "Sou um menino gay. Não sou trans e não faria cirurgia de redesignação sexual". Globo.com. Glamour. 11 de agosto de 2017. Acesso em 25 de setembro de 2018. Disponível em <https://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/Must-Share/noticia/2017/08/pabllo-vittar-sou-um-menino-gay-nao-sou-trans-e-nao-faria-cirurgia-de-redesignicao-sexual.html>

BUTLER, Judith. Gender is burning: Questions of appropriation and subversion. Cultural Politics, v. 11, p. 381-395, 1997.

_______, Judith. Alianças queer e política anti-guerra. Bagoas - Estudos gays: gêneros e sexualidades, v. 11, n. 16, 1 jan. 2017.

_______, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Editora Record, 2003.

BRATICH, J. Z. (2006). “Nothing is left alone for too long”: Reality programming and control society subjects. Journal of Communication Inquiry, 30(1), 65–83.

BRENNAN, N., GUDELUNAS D. (2017) Drag Culture, Global Participation e RuPaul's Drag Race. In: Brennan N., Gudelunas D. (org) Arrastar RuPaul e a visibilidade inconstante da cultura do arrasto. Palgrave Macmillan, Cham.

________, N. (2017) Contradictions Between the Subversive and the Mainstream: Drag Cultures and RuPaul’s Drag Race. In: Brennan N., Gudelunas D. (eds) RuPaul’s Drag Race and the Shifting Visibility of Drag Culture. Palgrave Macmillan, Cham

BRINCO, Henrique. “Nunca senti a necessidade de optar por um nome feminino”, diz Pabllo Vittar. RD1, Terra Entretenimento. 10 de agosto de 2017. Acessado em 24 de setembro de 2018. Disponível em: <https://rd1.com.br/nunca-senti-a-necessidade-de-optar-por-um-nome-feminino-diz-pabllo-vittar/ >

CASTELLANO M., MACHADO H.L. (2017) “Please Come to Brazil!” The Practices of RuPaul’s Drag Race’s Brazilian Fandom. In: Brennan N., Gudelunas D. (eds) RuPaul’s Drag Race and the Shifting Visibility of Drag Culture. Palgrave Macmillan, Cham.

CESAR, Paulo. Ney Matogrosso - América Do Sul - Clip Fantástico. Youtube. 16 de dezembro de 2016. Acesso em 15 de setembro de 2018. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=FkuflcS5fPw >

COLLING, Leandro. Que os outros sejam o normal: tensões entre movimento LGBT e ativismo queer. Edufba, 2015.

_________, Leandro. A emergência dos artivismos das dissidências sexuais e de gêneros no Brasil da atualidade. Sala Preta, v. 18, n. 1, p. 152-167, 2018.

CONGRESS, Library. National Film Registry Titles Selected 1989-2017. PROGRAM National Film Preservation Board. 2017. Acesso em 23 de setembro de 2018. Disponível em https://www.loc.gov/programs/national-film-preservation-board/film-registry/complete-national-film-registry-listing/

DAGGETT. C. (2017) “If You Can’t Love Yourself, How in the Hell You Gonna Love Somebody Else?” Drag TV and Self-Love Discourse. In: Brennan N., Gudelunas D. (eds) RuPaul’s Drag Race and the Shifting Visibility of Drag Culture. Palgrave Macmillan, Cham.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. 1227–Tratado de Nomadologia: A máquina de guerra. Mil Platôs–capitalismo e esquizofrenia, v. 5, 1997.

FANON, Frantz; DA SILVEIRA, Renato. Pele negra, máscaras brancas. SciELO-EDUFBA, 2008.

FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica: curso dado no Collège de France (1977-1978). Martins Fontes, 2008.

_________, Michel. Vigiar e punir. Leya, 2014.

GAUTHIER, Jorge. Coletivo Bonecas Pretas, que reúne drags negras, será lançado na Tropical Clube. Blog Me Salte – Correiro 24h. 21 de abril de 2017. Acesso em 27 de setembro de 2018. Disponível em http://blogs.correio24horas.com.br/mesalte/coletivo-bonecas-pretas-que-reune-drags-negras-sera-lancado-na-tropical-clube

HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari; TADEU, Tomaz. Antropologia do ciborgue. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

GSHOW. Pabllo Vittar explica escolha de seu nome artístico: 'Nunca senti a necessidade de optar pelo feminino'. Encontro com Fátima Bernardes. Gshow Rio de Janeiro. 9 de agosto de 2017. Acesso em 14 de setembro de 2018. Disponível em: < https://gshow.globo.com/programas/encontro-com-fatima-bernardes/noticia/pabllo-vittar-fala-sobre-seu-nome-no-encontro.ghtml>

hooks, bell. Black looks: Race and representation. South East Press, Bosta, MM, 1992.

KLEIMAN, Kelly. Drag = blackface. Chi Kent L. Rev., v. 75, p. 669, 1999.

LEVIN, Sam. Who can be a drag queen? RuPaul's trans comments fuel calls for inclusion. The Guardian. 8 de março de 2018. Acesso em 24 de setembro de 2018. Disponível em https://www.theguardian.com/tv-and-radio/2018/mar/08/rupaul-drag-race-transgender-performers-diversity

LEVINGSTON, Jennie. Paris is Burning. Off-White Productions, 1990.

LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. Editora Companhia das Letras, 2015.

MALAYANUS, Ursus. What is Voguing? (Paris is Burning). Youtube. 8 de agosto de 2013. Acesso em 12 de setembro de 2018. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=vNdgYBCnW-8>

MATOGROSSO, Ney. Água do Céu – Pássaro. Warner Music Brasil. 1975. (LP).

MARTEL, Frédéric. Mainstream: a guerra global das mídias e das culturas. Editora José Olympio, 2013.

MISKOLCI, Richard; PELÚCIO, Larissa. Fora do sujeito e fora do lugar: reflexões sobre performatividade a partir de uma etnografia entre travestis. Revista Gênero, v. 7, n. 2, 2012.

MORRIS, Chris. Now meet the real gay mafia. New Statesman America. 12 de fevereiro de 1999. Acessado em 23 de setembro de 2018. Disponível em < https://www.newstatesman.com/now-meet-real-gay-mafia>

MBEMBE, Achille. Necropolítica, una revisión crítica. In: GREGOR, Helena Chávez Mac (Org.). Estética y violencia: Necropolítica, militarización y vidas lloradas. México: UNAMMUAC, 2012, p. 130-139.

MIRAMAX. Paris Is Burning | 'Your Son is a Woman' (HD) | MIRAMAX. Youtube. 31 de outubro de 2016. Acesso em 12 de setembro de 2018. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=gYfb257KdG4 >.

MCINTYRE J., RIGGS D.W. (2017) North American Universalism in RuPaul’s Drag Race: Stereotypes, Linguicism, and the Construction of “Puerto Rican Queens”. In: Brennan N., Gudelunas D. (eds) RuPaul’s Drag Race and the Shifting Visibility of Drag Culture. Palgrave Macmillan, Cham.

MURPHY, Megan. Why has drag escaped critique from feminists and the LGBTQ community?. Feminist Courrent. 25 de abril de 2014. Acesso em 27 de setembro de 2018. Disponível em < https://www.feministcurrent.com/2014/04/25/why-has-drag-escaped-critique-from-feminists-and-the-lgbtq-community/

NICHOLSON, Rebecca. RuPaul: 'Drag is dangerous. We are making fun of everything'. The Guardian. 3 de junho de 2015. Acesso em 23 de setembro de 2018. Disponível em <https://www.theguardian.com/tv-and-radio/2015/jun/03/rupaul-drag-is-dangerous-we-are-making-fun-of-everything>

NUNES, Caian Pabllo Vittar é destaque no jornal The New York Times: "Um ícone amado e um emblema de fluidez de gênero”. POPLine. 7 de outubro de 2017. Acesso em 12 de setembro de 2018. Disponível em http://portalpopline.com.br/pabllo-vittar-e-destaque-no-jornal-the-new-york-times-um-icone-amado-e-um-emblema-de-fluidez-de-genero/

O’HALLORAN K. (2017) RuPaul’s Drag Race and the Reconceptualisation of Queer Communities and Publics. In: Brennan N., Gudelunas D. (eds) RuPaul’s Drag Race and the Shifting Visibility of Drag Culture. Palgrave Macmillan, Cham.

PARRINE, Raquel. Construção de gênero, laços afetivos e luto em Paris Is Burning. Estudos Feministas, v. 25, n. 3, p. 1419-1436, 2017.

PAUL, Ru. Born Naked. Composição: Lucian Piane. RuCo, Inc, 2014. (CD).

PERL, Ru. Kennedy Vs Violet Vs Ginger Vs Pearl - Born Naked Lipsync HD | RPDR Season 7 Episode 12. Youtube. 21 de abril de 2018. Acesso em 19 de setembro de 2018. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=UMmzGipx5d0 >

PRECIADO, Paul B. Testo Junkie: Sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. N-1 edições, 2018.

ROLNIK, Suely. A hora da micropolítica. Série Pandemia. São Paulo: n-1 edições, 2016.

ROSIELLO R. (2017) “I Am the Drag Whisperer”: Notes from the Front Line of a Cultural Phenomenon. In: Brennan N., Gudelunas D. (eds) RuPaul’s Drag Race and the Shifting Visibility of Drag Culture. Palgrave Macmillan, Cham.

RIBEIRO, Naiana. Pabllo Vittar é agora a drag queen mais famosa do mundo nas redes sociais. 29 de junho de 2017. Acesso em 28 de setembro de 2018. Disponível em: <http://blogs.correio24horas.com.br/mesalte/pabllo-vittar-e-agora-a-drag-queen-mais-famosa-do-mundo-nas-redes-socias>

SCHULMAN, Sarah. Israel and ‘Pinkwashing’. New York Times, v. 22, 2011.

SLOTERDIJK, Peter. Regras para o parque humano: uma resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo. Estação Liberdade, 2000.

VALENCIA, Sayak. Capitalismo gore. Paidos México, 2016.

WHITWORTH C. (2017) Sissy That Performance Script! The Queer Pedagogy of RuPaul’s Drag Race. In: Brennan N., Gudelunas D. (eds) RuPaul’s Drag Race and the Shifting Visibility of Drag Culture. Palgrave Macmillan, Cham.

ZÓIA MÜNCHOW, Cleiton. PRECIADO, Beatriz. Testo Yonqui. Madrid: Espasa, 2008. Educar em Revista, n. 1, 2014.

Downloads

Publicado

27-12-2019

Edição

Seção

Ensaios