Transfake e a busca pela verdade na representação de travestis e pessoas trans

Autores

  • Sofia Ricardo Favero UFRGS
  • João Gabriel Maracci UFRGS

Palavras-chave:

ativismos trans, transfake, representação, verdade

Resumo

O presente artigo discute o modo que os ativismos trans têm criticado a interpretação de atores e atrizes cis que representam papéis sobre transexualidade em produções cênicas. A essas atuações são dadas o título de transfake, em uma tentativa de reescrever os efeitos do blackface na população trans. Diante disso, buscou-se questionar o modo que a expressão fake estaria, em oposição, mantendo um regime de verdade em relação ao gênero, prática comum na história da nosologia psiquiátrica, mas que pode ser encontrada em determinadas condutas ativistas atuais. Nesse sentido, as disputas pela representação têm aparecido como um meio de impedir a relativização da transexualidade, pois, embora objetivem promover o reconhecimento político das pessoas trans, também presumem determinada correspondência entre aquilo que se é e aquilo se faz. Considera-se, portanto, que existem riscos envolvidos na defesa de uma estabilidade identitária, por meio da censura e técnicas proibitivas, além dos riscos de promover um engessamento das possibilidades de representar a vida.

Biografia do Autor

Sofia Ricardo Favero, UFRGS

Psicóloga pela Associação de Ensino e Cultura/Faculdade Pio Décimo (SE). Integrante da Comissão Científica (CCAT) do Ambulatório de Cuidado Integral à Saúde da Pessoa Trans (UFS). Participa da Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis (AMOSERTRANS). Mestranda em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

João Gabriel Maracci, UFRGS

Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

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Publicado

11-02-2019

Edição

Seção

Artigos