Responsabilidade enunciativa e mediatividade em narrativa de depoimento de testemunha
Resumo
A responsabilidade enunciativa é um tema que permeia a linguagem humana. Interessa-nos saber se o locutor enunciador assume a responsabilidade enunciativa pelo conteúdo proposicional do seu dizer ou não. Quando o locutor enunciador não assume a responsabilidade enunciativa, estamos diante de um quadro mediativo. Essa escolha do locutor enunciador é marcada na língua, conforme Guentchéva (2011). Seguindo essa linha, este artigo apresenta como objetivos: identificar, descrever, analisar e interpretar narrativas de depoimentos de testemunhas no que concerne à assunção da responsabilidade enunciativa e à mediatividade. A respeito da metodologia, é do tipo qualitativa de natureza interpretativista. O corpus analisado é constituído por dois depoimentos de testemunhas do crime de estupro de vulnerável e atentado violento ao pudor, considerados crimes hediondos segundo a lei federal n° 8.0702/90, inciso VI do artigo 1°. Esses depoimentos estavam dispostos em uma Guia de Execução Criminal. Teoricamente, o estudo fundamenta-se nos postulados da Análise textual dos discursos (ATD), em diálogo com teorias linguísticas enunciativas, com Rabatel (2016), Adam (2011) e Guentchéva (2011) e Rodrigues (2016, 2017). A análise dos dados aponta que em ambos os depoimentos das testemunhas, o locutor enunciador primeiro (L1/E1), o locutor testemunha (L-T) e os enunciadores segundos (e2) ora assume a responsabilidade enunciativa, ora apresenta um quadro de mediatividade.
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