O aparelho formal da enunciação de Benveniste: quantos "aqui-agora" comportam uma tradução e (auto)revisão de tradução?
Resumo
Os processos de tradução e de revisão geralmente não são percebidos quando o texto é lido pelo leitor. Por isso, este trabalho tem como objetivo propor uma reflexão sobre tradução e revisão de tradução, considerando o que acontece com o texto traduzido e revisado antes de chegar às mãos do leitor. Dessa forma, aqui a tradução é vista pela ótica do traduzir, ou seja, do processo. O conceito de “enunciação” utilizado é o que consta em “O Aparelho Formal da Enunciação'', em que Benveniste (1989) define enunciação como a colocação da língua em uso em um ato individual. Além disso, parte-se da noção de que existe a presença do homem na língua, conforme os estudos de Flores (2019). Portanto, sai-se da ideia de tradução unicamente como produto final e presta-se atenção ao processo. Para isso, uma nova tradução e uma (auto)revisão são propostas, a fim de pensar sobre as enunciações distintas que ocorrem durante todo esse trabalho com o texto. Essa análise é feita a partir do registro das etapas do processo e de alguns trechos da tradução e da revisão da tradução. Por meio das marcas formais dos enunciados, procura-se refletir sobre quantos “aqui e agora” acontecem no ato de traduzir e revisar um texto traduzido. A tradução e (auto)revisão serão analisadas à luz dos estudos de Benveniste (1989), Hainzenreder e Flores (2013), entre outros.
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