De Taunay (1914) a Viotti (1956): contrastes de uma dicionarização do léxico brasileiro
Resumo
Pretende-se, neste trabalho, apresentar uma comparação entre duas obras lexicográficas de língua portuguesa que se propuseram, no século XX, a descrever e destacar o léxico brasileiro e suas particularidades sociolinguísticas. O primeiro dicionário é o “Léxico de lacunas, subsidios para os diccionarios da lingua portugueza” (1914), de Afonso de Taunay, que, nas palavras do autor, descreve-se como um “LÉXICO de termos vulgares, correntes no Brazil, sobretudo no Estado de São Paulo, e de accepções de numerosos vocábulos, ainda não apontados nos grandes diccionarios da língua portugueza” (TAUNAY, 1914, p. 7). A segunda obra é o Novo Dicionário da Gíria Brasileira (1956), de Manuel Viotti, um suplemento lexicográfico que teve por missão “inserir material já catalogado em outros dicionários e vocabulários cujo rol vai mencionado na Bibliografia anexa, salvo quando não figuravam ainda nos grandes léxicos da nossa língua” (VIOTTI, 1956, p. 9). O estudo fundamenta-se em Atkins e Rundell (2008), Burkhanov (1998), Hartmann e James (2002) e Welker (2011). A metodologia consistiu na comparação das propostas das obras e suas respectivas estruturas, identificação das fontes e levantamento, descrição e, por fim, contraste das marcas de uso empregadas em verbetes. Como resultados, observa-se que: a) a construção semelhante das obras é orientada por uma pauta da Academia Brasileira de Letras (ABL); b) as fontes lexicográficas do Léxico de lacunas oferece destaque para as obras, enquanto o Novo Dicionário da Gíria Brasileira enfatiza a autoria; c) o Léxico de lacunas apresenta 90 marcas de uso e o Novo Dicionário da Gíria Brasileira 99 marcações.
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