A modalização, a modalidade e a nova retórica nos pronunciamentos do presidente Jair Bolsonaro: por uma análise textual-retórico-discursiva.
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo analisar os efeitos de sentido construídos pelos elementos da modalização, modalizadores e retóricos, desvelando a posição assumida pelo sujeito-autor, que, neste caso, é o atual presidente Jair Messias Bolsonaro (JMB) nos discursos por ele proferidos, a fim de persuadir os interlocutores sobre os usos de medicamentos “preventivos” para a COVID-19 e tudo que vem a partir daí. Quanto à metodologia, utilizamos a abordagem qualitativa a partir de um paradigma interpretativista. Nessa direção, o corpus da pesquisa foi composto por três pronunciamentos transmitidos em cadeia nacional de rádio e televisão e publicados no site oficial do governo federal nas datas 24/03/20, 31/03/20 e 08/04/20. Para tanto, utilizamos os pressupostos teórico-metodológicos da Linguística Textual e da Nova Retórica e, para tal empreendimento, ancoramo-nos em Bakhtin (1997, 2016), Marcuschi (2008), Koch (2002, 2003), Coutinho (2004), Paiva (2007), Pires (2005) Perelman & Olbrechts-Tyteca (1996) Castilho e Castilho (1996), Nascimento (2010, 2006, 2017), Santos (2012) e Pessoa (2007). As análises revelaram que as estratégias utilizadas pelo locutor indiciaram a intencionalidade de um regime de pós-verdade, engendrado por uma atmosfera de horror e morte, cujo posicionamento também fica evidente a forma jocosa com que JMB lida com a crise sanitária do/no país.
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