Bichas pretas e o Letramento Racial Crítico – devires em sala de aula
Resumo
Apresentamos nesse trabalho, a partir de identidades sociais, sobretudo, de raça e sexualidade, como podemos refletir sobre diferentes sistemas de opressão dentro de sala de aula, interseccionados com o conceito de Letramento Racial Crítico (FERREIRA, 2014), enquanto educadores. Nos interessa discutir, quais devires são possíveis para bichas pretas no ambiente escolar? Além do mais, como o letramento racial crítico potencializa bichas pretas docentes? Notamos que uma das premissas da Critical Race Theory (CRT) ou, Letramento Racial Crítico, é a importância de dar voz ao sujeito, ou seja, a relevância das narrativas como influenciadoras no processo de autocompreensão, autoconhecimento, liberdade e transgressão. Mobilizamos o conceito de identidade social (WOODWARD, 2019[2014]), raça (HALL, 2019[2014]; KILOMBA, 2020[2008]), sexualidade (OLIVEIRA, 2017; JESUS, 2012), Letramento Racial Crítico (LRC) (LADSON-BILLINGS, 1998; FERREIRA, 2014) para evidenciar como as reflexões podem auxiliar no processo de reconhecimento de si e de outros, a fim de tornar possível um ensino que abale o sistema colonial opressor. O trabalho é de caráter bibliográfico, de natureza básica e com abordagem qualitativa. Os resultados de pesquisa indicam que os devires possíveis para a bicha preta educadora é sempre transgressor, permitindo uma ruptura com o ciclo de violência contra esses corpos, tanto numa dimensão individual e subjetiva, quanto numa dimensão coletiva de ressignificação das identidades de raça e sexualidade. Concluímos que o LRC pode ser uma das ferramentas para que indivíduos de identidade sociorracial de sexualidade periférica retorne à sala de aula rompendo o ciclo de violência contra uma coletividade.
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