Tempo verbal nos livros didáticos: por análise reflexiva à luz dos princípios enunciativos da Teoria das Operações Enunciativas de A. Culioli
Palavras-chave:
TOE, Livro didático, Tempo verbal, Ensino de língua materna.Resumo
Durante muitas décadas tem-se observado que há na língua portuguesa certa primazia em se estudar a categoria tempo verbal a partir de quadros sinóticos de conjugações verbais cujo simples acréscimo de morfemas ao radical do verbo torna-se suficiente para representar a noção de presente, passado ou futuro. Trabalhar essa categoria sob essa perspectiva estática da língua consiste em considerá-la um elemento pré-determinado do sistema linguístico e não dá conta das reais particularidades inerentes ao tempo verbal, as quais só são de fato observáveis nas situações efetivas de uso da língua. Considerando esses aspectos bem como as atuais concepções de estudos gramaticais da língua portuguesa, propomos refletir e investigar a abordagem do tempo verbal explorada pelos livros didáticos de Ensino Fundamental. Para tanto, baseamo-nos na Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas de Antoine Culioli, por esta expor que o agenciamento de formas gramaticais ocorre nas construções de significações, ou seja, nos textos, nos enunciados e assumem valores no processo de construção referencial. O corpus desta pesquisa é composto por quatro coleções de livros didáticos de língua portuguesa representativas do 6º e 7º ano, adotadas pela rede pública de ensino de Teresina-PI e pertencentes ao último triênio do PNLD. Os dados foram analisados sob uma perspectiva descritivo-interpretativa haja vista que o intuito não é quantificar as ocorrências com as marcas de tempos verbais, mas sim, ir em busca dos “observáveis” nos enunciados, ou seja, compreender como se dá a construção de sentido dessas marcas em situações concretas de uso. Como resultados verificou-se que não há uma exploração da categoria tempo verbal enquanto suporte para a construção e reconstrução de significações. O que se vê é a permanência da preocupação com identificações, classificações de formas e com a explicação metalinguística, pontos constantes de discussões no pensar e repensar o ensino de aspectos gramaticais.
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