A fala do povo boa-vistense: considerações preliminares

Autores

  • Luzineth Rodrigues Martins Universidade Federal de Roraima – UFRR
  • Elecy Rodrigues Martins Universidade Estadual de Roraima – UERR
  • Maria do Socorro Melo Araújo Universidade Estadual de Roraima – UERR

Resumo

Roraima está localizado em tríplice fronteira e tem cenário geolinguístico muito propício à pesquisa pela sua composição geográfica e populacional. Boa Vista, a sua capital, é a única capital brasileira situada no hemisfério norte, acima da linha do equador e abriga aproximadamente 413.486 mil habitantes, população formada por pessoas de todos os estados brasileiros, indígenas de várias etnias e imigrantes, especialmente da Venezuela e do Haiti. Diante desse cenário que se apresenta em Roraima, um trabalho científico sistemático sobre a realidade sociolinguística do povo roraimense torna-se relevante para compreensão do meio social em que se vive. Dessa forma, o Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociolinguísticas de Roraima – NEPSol coordenado pela professora Luzineth Rodrigues Martins, da Universidade Federal de Roraima realiza pesquisas dialetológicas que denotam a pluralidade sociocultural, especialmente as regionais. O trabalho ora apresentado é resultado do projeto de pesquisa “Mapeamento Geolinguístico da fala do povo boa-vistense”, que se caracteriza como um recorte de um   macro projeto denominado “Roraima, quem és tu: caminhos para a construção do Atlas Linguístico de Roraima-ALiRR”. Esse mapeamento geolinguístico está sendo realizado em seis bairros de Boa Vista e considera o número de habitantes, a localização geográfica e o distanciamento entre eles. Trata-se de um trabalho dialetológico que utiliza mesmo método do Comitê do Atlas Linguístico Brasileiro (ALiB): aplicação de questionários fonético-fonológico (QFF) com questões de prosódia; aplicação de questionários semântico-lexical (QSL); aplicação de questionários questionário Morfossintático (QMS) com questões de pragmática e metalinguística O aporte teórico da pesquisa ancora-se na literatura relacionada às áreas de Sociolinguística e Dialetologia, a saber: Comitê nacional do projeto ALíB (2001), Aguilera (2005, 2006), Cardoso (2010), Cardoso et al. (2014)  Razky e Farias (2012), Mota, Cardoso e Paim  (2012) entre outros. Neste trabalho, faz-se apenas algumas considerações iniciais sobre o projeto, fruto de análises da pesquisa piloto realizada na cidade de Boa Vista, com a apresentação de dados preliminares da fala do povo boa-vistense sobre três processos fonético-fonológicos: monotongação, ditongação e palatalização. Esses fenômenos não são marcas do falar específico de Boa Vista, visto que em outros estados do país o processo também ocorre com regularidade, o que parece comprovar a hipótese inicial da pesquisa de que a variação linguística falada pelo povo boa-vistense pode ser semelhante à que ocorre em alguns estados da região nordeste, como o Maranhão, o Piauí e o Ceará, estados de origem do maior percentual de migrantes no Estado. Apesar de apresentar dados preliminares, espera-se contribuir para a oferta à comunidade científica e à sociedade de um retrato do modo de falar do povo boa-vistense, visando o preenchimento da grande lacuna que há nos estudos dialetológicos sobre Roraima.

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Publicado

01-11-2023