Riodonorês e guadramilês: um estudo histórico e sociolinguístico

Autores

Palavras-chave:

Riodonorês, guadramilês, sociolinguística, línguas minoritárias

Resumo

Com o presente estudo quisemos analisar o guadramilês e o riodonorês, numa perspetiva histórica e sociolinguística.

Estas duas línguas de descendência asturo-leonesa, pertencentes ao território português, situam-se na zona nordeste de Portugal, junto à fronteira com Espanha. Juntamente com o mirandês, são as únicas línguas não galaico-portuguesas existentes no território nacional que, na opinião de muitos especialistas, é um espaço linguístico de notável unidade (Paiva Boléo & Santos Silva, 1962, Clarinda de Azevedo Maia, 1992).

Alguns autores, como Telmo Verdelho (1993), consideram que estas línguas estão extintas desde meados do século passado e que hoje em dia consistem apenas numa ténue memória linguística completamente desaparecida. No entanto, através do presente estudo, pretendemos demonstrar que, embora contem com um reduzido número de falantes, continuam a fazer parte do património linguístico e cultural daqueles que se orgulham de as continuar a utilizar como sua marca identitária.

Com efeito, ao longo deste nosso estudo de caso pudemos apurar que estas duas línguas continuam a ser usadas por alguns dos habitantes de Riodonor e Guadramil, mesmo que em situações mais privadas e informais. Julgamos estar, ainda, a tempo de salvar estas línguas que, na opinião dos nossos inquiridos - e também na nossa -, deviam continuar a ser aprendidas em família.

Na verdade, uma língua apenas pode ser abandonada pelos seus próprios falantes e, com esta nossa investigação, ficou bem patente que os riodonoreses e os guadramileses parecem não querer abandonar a sua identidade linguística secularmente consagrada. 

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Publicado

05-02-2017

Edição

Seção

Artigo experimental (acadêmico)