(Com) tradições e conflitos nos percursos da educação na Guiné-Bissau, no pós-independência:
possíveis contribuições do Ensino de História na construção de novos rumos
Resumo
O presente artigo objetiva compreender como as tradições locais e as contradições do colonialismo, em meio aos conflitos de natureza política, se entrelaçaram na itinerância da educação na Guiné-Bissau, no contexto pós-colonial. Assim, o texto observou os valores éticos, os legados culturais e as experiências da coletividade inerentes à educação tradicional africana, em cujas bases predomina a oralidade. Analisa o modo em que a educação colonial operou, contrapondo-se às práticas de transmissão de conhecimentos (educação oral) ao favorecer o modelo eurocêntrico, sobre a realidade endógena guineense. Entre embates e tensões, as várias formas de resistências no âmbito da luta anticolonial, em retorno às raízes africanas através de abordagens afrocentradas, integraram os percursos destes processos. Neste sentido, destacaram-se os esforços em defesa aos ideários do PAIGC, além de um outro fator, o golpe de estado em 1980, ocorrido com o envolvimento de entidades financeiras Internacionais, entre as quais o FMI e o BM, por meio do programa de Ajustamento Estrutural (PAE), por sua vez alinhado a uma educação de viés tecnicista, e ancorada aos projetos neoliberais. Para a realização deste estudo, recorremos a uma pesquisa bibliográfica por meio de diálogos com a obra de Ba (2010), Cá (2000), Cá (2009) Mendes (2019), Namone (2020) e Sane (2018), fontes da imprensa e manuais escolares. Os resultados apontam para as disputas de divergentes interesses, nas contínuas crises e tensões impostas ao sistema educativo da Guiné-Bissau, marcado, ambiguamente, pelos resquícios das violências do regime colonial, bem como pelas contínuas resistências. Por fim, apresenta a função social do Ensino de História frente a tais processos, como ferramenta imprescindível para a formação da cidadania e para a consolidação democrática, além do despertar de uma consciência política e emancipatória, nos contributos da história escolar.