A língua portuguesa em direção ao século XVI: principais reconfigurações socioculturais
Resumo
Objetiva-se, neste trabalho, discutir ainda que brevemente as principais reconfigurações históricas e culturais que modificaram a língua portuguesa ao longo de quatro séculos de produção escrita. Defende-se, nesse contexto, que o português será gramaticizado no momento em que importantes mudanças sociais têm ocorrido, como o próprio surgimento de sua escrita, bem como a estreia da imprensa, em solo português, e a consolidação do primeiro cânone literário, com os Lusíadas, de Luís de Camões. Tudo isso impulsionará a elaboração de obras lexicográficas, como glosas, dicionários e as Cartinhas ou Cartilhas, as quais, voltavam-se exclusivamente ao ensino religioso e, posteriomente, a essas publicações, vieram a lume as primeiras gramáticas da língua, a de Fernão de Oliveira e a de João de Barros, justamente quando o Renascimento estava a todo vapor na Europa incentivando, consideravelmente, na formação das Nações e dos Estados nacionais. Portanto, este artigo traça de maneira sucinta um perfil histórico do português, tendo como aporte teórico, para isso, a Linguística Histórica Stricto Sensu, a Filologia Textual e a Lexicografia Histórica. Espera-se com este trabalho poder contribuir para as investigações sobre a constituição histórica da língua portuguesa, especificamente as que se inserem no recorte temporal do século XIII até o XVI.
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